segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

O MÉDICO QUE ACERTAVA SEMPRE


Na taberna, lá para as bandas de Alenquer, D. Alice, enquanto servia um branco ou um tinto, ia-se descuidando com estrondo e sem rebuço.

Quem a conhecia não estranhava e acabava por nem dar por isso, tamanho era a habituação ao estranho costume . Uma vez por outra, aparecia um cliente, não habitual, que arqueava as sobrancelhas perante os gases da proprietária.

Nessas ocasiões, D. Alice enchia-se de paciência e explicava:

-O Dr. Amaral, o meu médico, farta-se de me dizer para nunca guardar o que não me faz falta. Como o tenho em grande conta, jamais me passou pela cabeça desobedecer-lhe.

E sublinhava o esclarecimento com um traque gigante, que no verão tinha o condão de afugentar as moscas que teimavam em entrar-lhe no estabelecimento.

O Dr. Amaral era um santo para a população e gozava da fama de acertar sempre, em relação às grávidas, se elas teriam um rapaz ou uma rapariga. O exame era demorado. Palpava as barrigas de uma forma cuidadosa, muito demorada e, por fim, vaticinava:

-É um rapaz!

Enquanto isto dizia, registava na ficha o contrário do que tinha dito: rapariga.

Quando a criança nascia, caso fosse rapaz, estava tudo certo. Se tivesse nascido uma rapariga, ele mostrava a ficha e esclarecia:

-Está aqui, preto no branco, que era uma rapariga!


Jorge C. Chora

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