quinta-feira, 9 de novembro de 2017

OS SAPATOS DO SEFUNTO


É muito raro utilizar o táxi como transporte. Nestas duas semanas usei-o mais do que nas últimas décadas, em virtude de estar impossibilitado de conduzir, por alguns dias, por motivo de saúde.

Ao passar num terreno anexo ao cemitério de Benfica, o motorista contou-me uma história curiosa que aconteceu com o seu falecido pai.

Ao velório do pai compareceram as várias mulheres que ele teve, num clima de paz e pesar colectivo. O condutor calou-se em relação à prole do falecido, mas qualquer coisa me disse que o progenitor era capaz de ser do tipo Abraão, pai de uma multidão.

No dia do funeral, ao chegar ao local do velório, achou qualquer coisa de esquisito, parecendo-lhe que o cadáver tinha sido mexido. Foi investigar e descobriu o que havia de estranho: o pai estava sem sapatos.

Indagou o que estava a acontecer e respondeu-lhe a viúva:

-Os sapatos são novos. Ele não vai precisar deles para o sítio onde vai!

Ia perdendo a cabeça. Ordenei-lhe que os fosse buscar:

-Vá buscá-los imediatamente.

E o velho motorista, pesaroso concluiu:

-Está a ver… no dia da ressurreição, o coitado a comparecer sem sapatos!

- Inconcebível! - concordei eu, pensando que alguém ficara, na época, sem a herança e que continuaria a andar descalço por essas ruas fora.

Felizmente, nos dias de hoje, ninguém fica à espera dos sapatos do defunto como outrora
porque, tal como neste caso  ”quem espera por sapatos de defunto morre descalço”.


Jorge C. Chora

1 comentário:

  1. O melhor é entrar numa sapataria e comprar um sapato, depois para o mês que vem outro...é que o preço dos sapatos estão "pela hora da morte"

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