É muito raro utilizar o táxi como transporte. Nestas duas
semanas usei-o mais do que nas últimas décadas, em virtude de estar
impossibilitado de conduzir, por alguns dias, por motivo de saúde.
Ao passar num terreno anexo ao cemitério de Benfica, o
motorista contou-me uma história curiosa que aconteceu com o seu falecido pai.
Ao velório do pai compareceram as várias mulheres que ele
teve, num clima de paz e pesar colectivo. O condutor calou-se em relação à
prole do falecido, mas qualquer coisa me disse que o progenitor era capaz de
ser do tipo Abraão, pai de uma multidão.
No dia do funeral, ao chegar ao local do velório, achou qualquer
coisa de esquisito, parecendo-lhe que o cadáver tinha sido mexido. Foi
investigar e descobriu o que havia de estranho: o pai estava sem sapatos.
Indagou o que estava a acontecer e respondeu-lhe a viúva:
-Os sapatos são novos. Ele não vai precisar deles para o
sítio onde vai!
Ia perdendo a cabeça. Ordenei-lhe que os fosse buscar:
-Vá buscá-los imediatamente.
E o velho motorista, pesaroso concluiu:
-Está a ver… no dia da ressurreição, o coitado a comparecer
sem sapatos!
- Inconcebível! - concordei eu, pensando que alguém ficara,
na época, sem a herança e que continuaria a andar descalço por essas ruas fora.
Felizmente, nos dias de hoje, ninguém fica à espera dos
sapatos do defunto como outrora
porque, tal como neste caso ”quem espera por sapatos de defunto morre
descalço”.
Jorge C. Chora
O melhor é entrar numa sapataria e comprar um sapato, depois para o mês que vem outro...é que o preço dos sapatos estão "pela hora da morte"
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