Tenho uma balança que ora é amiga e logo a seguir inimiga. É
dotada, ou pelo menos parece, de vontade própria: nem sempre é fiel e
constante, pois muda num ápice do oito para o oitenta, da noite para o dia. Se
ela fosse humana, às vezes julgo que é, esta oscilação de humor classificá-la-ia
como uma doente bipolar.
Vem isto a propósito de uma balança que habita em minha
casa, tão linda quanto imprestável, uma verdadeira doninha fedorenta. Tanto
marca 90 quilos como segundos depois, menos trinta ou quarenta. Quando ela
regista um peso pluma, tudo certo, é aceitável; ao registar pesos de hipopótamo,
não consigo tolerar semelhante comportamento.
O pior é que deitei fora a balança que tinha antes, por não ser
nova, moderna e apresentável, cuja fealdade era insuportável, quando comparada
à mais recente, transparente e electrónica! Mal sonhava eu, que adquiria uma
balança bipolar!
Só não a deito fora por motivos diplomáticos: quando as
visitas se pesam e ela decide retirar-lhes vários quilos, dá-me a oportunidade de
elogiar as dietas de sucesso. Se ela lhes atribui maior peso, digo-lhes que ela
está avariada, o que não deixa de ser verdade.
E é deste modo, que a minha balança bipolar, sobrevive à
expulsão, que a acontecer seria mais do que justa, e só peca por tardia.
Jorge C. Chora
26/11/18
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