ALGUNS DESENRASCANÇOS DA BUROCRACIA ECLESIÁSTICA
O EPISÓDIO DA GALINHA
Profissionais das mais diversas profissões, adoptam
estratégias variadas para denunciar algo que se passou e não querem deixar em
brancas nuvens, principalmente tratando-se de dívidas.
Chegou-me às mãos um registo paroquial, deveras curioso,
cedido por uma historiadora que se dedica às investigações paroquiais.
Este registo de batismo, de Vila Mendo, freguesia de Vila
Fernando da Guarda, datado do século XVIII, após registar, de acordo com a
época e as fórmulas eclesiásticas em vigor, tudo o que era de lei, faz questão
de dar uma informação de que este acto não fora pago. Na margem esquerda do
registo paroquial, acrescenta-lhe o padre cura a informação: deve uma galinha.
Ora tomem: se o serviço tem preço, é preciso que seja
honrado, independentemente do grau de pobreza de quem o solicitou. Aí está o
libelo eterno de quem faltou aos seus deveres, sem apelo nem agravo, aos olhos
dos vindouros: DEVE UMA GALINHA.
AFINAL RESSUSCITOU
Noutro registo, também do século XVIII, em Mesquitela,
Mangualde, foi feito um registo de batismo .
Cerca de dois anos mais tarde, na margem esquerda do
documento, acrescenta-se a data do seu falecimento e logo a seguir, a menção:
Ainda está vivo, ressuscitou.
Actualização constante, poupança de registos, emendas
imediatas, correcção de erros?
Conclui-se ser mais um desenrascanço eclesiástico .Tudo está
bem quando acaba bem: afinal tratou-se
de uma ressurreição!
Jorge C. Chora
15/6/19
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