sexta-feira, 6 de março de 2020

UM SANTO DISTRAÍDO


 Mal abriu a porta de casa sentiu que algo não estava bem. Olhou em redor e os seus olhos chocaram com as fotografias caídas em cima da sapateira, ao lado da porta do quarto.

Agarrou, de modo instintivo, o braço da amiga que convidara para sua casa. Tremendo entraram no quarto. A colcha estava remexida e havia um alto do lado direito da cama.

Puxaram a colcha e ambas gritaram de susto e pavor: uma cobra enorme repousava,impávida, na sua cama. Nem os gritos a incomodaram. Como estava, assim se deixou estar.
Aos gritos de aflição, acorreu o vizinho do andar de baixo.

-O que se passa vizinhas? Precisam de ajuda?

-Tenho uma cobra monstra na minha cama…. -  balbuciou, a custo, a dona da casa, num estado de nervos de meter dó.

-Não me diga que é a minha Marlene Dietrich…. – e dirigiu-se ao quarto da vizinha.

Agarrou na cobra, aconchegou-a a si, beijou-a de modo carinhoso e disse:

-Vizinha, peço-lhe mil perdões. A minha Marlene não faz mal a ninguém. Deve ter apanhado as portas abertas e foi refastelar-se, como é seu hábito.

A acompanhante da dona da casa, refeita do susto, brincou com a amiga que, aliás, conhecia de ginjeira:

-O teu santo é muito distraído! Passas a vida a pedir-lhe uma “cobrinha” e ele ofereceu-te uma cobra de todo o tamanho…

-E ainda por cima, em vez de um Leonardo di Caprio, trouxe-me uma Marlene Dietrich! É mesmo muito, mas muito distraído!

Jorge C. Chora
6/3/2020
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