Mal abriu a porta de casa sentiu que algo não estava bem.
Olhou em redor e os seus olhos chocaram com as fotografias caídas em cima da
sapateira, ao lado da porta do quarto.
Agarrou, de modo instintivo, o braço da amiga que convidara
para sua casa. Tremendo entraram no quarto. A colcha estava remexida e havia um
alto do lado direito da cama.
Puxaram a colcha e ambas gritaram de susto e pavor: uma cobra
enorme repousava,impávida, na sua cama. Nem os gritos a incomodaram. Como
estava, assim se deixou estar.
Aos gritos de aflição, acorreu o vizinho do andar de baixo.
-O que se passa vizinhas? Precisam de ajuda?
-Tenho uma cobra monstra na minha cama…. - balbuciou, a custo, a dona da casa, num estado
de nervos de meter dó.
-Não me diga que é a minha Marlene Dietrich…. – e dirigiu-se
ao quarto da vizinha.
Agarrou na cobra, aconchegou-a a si, beijou-a de modo
carinhoso e disse:
-Vizinha, peço-lhe mil perdões. A minha Marlene não faz mal
a ninguém. Deve ter apanhado as portas abertas e foi refastelar-se, como é seu
hábito.
A acompanhante da dona da casa, refeita do susto, brincou
com a amiga que, aliás, conhecia de ginjeira:
-O teu santo é muito distraído! Passas a vida a pedir-lhe
uma “cobrinha” e ele ofereceu-te uma cobra de todo o tamanho…
-E ainda por cima, em vez de um Leonardo di Caprio,
trouxe-me uma Marlene Dietrich! É mesmo muito, mas muito distraído!
Jorge C. Chora
6/3/2020
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