Ensinou o seu cão a tossir. Quando lhe tocavam à porta e não
queria atender, fingia-se doente. Fazia um sinal ao Fiel e ele tossia sem
parar, bastando-lhe anunciar, em voz alta: hoje não posso.
Outras vezes, a um sinal diferente, o Fiel não ladrava, não
tossia e não dava qualquer sinal de que estivesse alguém em casa.
A parceria intrujona manteve-se de pedra e cal até que
António se começou a esquecer amiúde, de lhe dar comida com regularidade.
Ao fim de umas semanas neste ritmo, come hoje e jejua
amanhã, tocaram à porta. O dono espreitou pelo óculo e fez o sinal ao Fiel para
não tossir nem dar um pio.
Fiel franziu o grande nariz de perdigueiro, esticou o
pescoço e emitiu o som bem audível, imitando a frase:
-Estou cá…estou cá….
-Schiu …. Schiu Fiel… - ordenou-lhe inquieto o dono.
E o Fiel, tossindo à maneira do dono, continuava:
-Estou cá…estou cá….
Fiel só parou quando o dono lhe foi buscar, a correr, o
prato cheio de comida.
Hoje em dia, o dono olha-o de soslaio e murmura:
-Interesseiro…
Fiel responde-lhe, com uma tossezinha velhaca, idêntica à
que o dono lhe pede para enganar papalvos.
Jorge C. Chora
2/2/20
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