Repousa à sombra, estendido e relaxado, o grande pato, que é
pai, avô e bisavô da patada em seu redor.
As patas do galinheiro são todas suas e nunca permitiu a
aproximação a nenhum rival. Os que tentaram, ainda hoje se queixam da sova recebida.
O problema deste grande pato, é que à medida que envelheceu,
o seu apetite foi crescendo e agora não lhe chegam as patas, também persegue as
galinhas com objetivos libidinosos.
Ontem, o dono do pato, apanhou-o a perseguir o galo, com intuitos
pouco claros.
Depois de o observar com atenção, concluiu que que as
intenções do pato diziam mesmo respeito a uma tentativa de reprodução. O galo
fugia espavorido, eriçando a crista, anunciado não ser galinha, mas o grande
pato fez-se de lucas e truca, ferrou-lhe o pescoço por entre cócórocós e o bater
de asas. O desgraçado escapou por um triz aos apetites do avantajado pato.
E quando o dono, desiludido com o seu reprodutor dos
reprodutores, se queixava da sua recente tara pelas galinhas e até pelo galo,
eis que o seu empregado lhe diz:
- Ele já não sabe se é pata, galo ou galinha…
-Como assim?! – espantou-se o dono.
-Ele está cego…
-Ah! Logo vi…- exclamou o dono- Pato velho perdeu a visão
mas não o vício!
Jorge C. Chora
8/05/2021
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