Se havia algo que Anselmo detestava ver, era a estatueta do Buda, colocada na estante da sala.
Um dia resolveu tirá-la do sítio e escondê-la na despensa,
dentro de uma lata.
Pela tarde, um dos netos, apareceu-lhe com o Buda na mão e
perguntou-lhe:
-Este não é o Buda da estante? Estava numa lata …
E Anselmo, fazendo-se surpreendido, voltou a colocá-lo no
local do costume.
Não desistiu de o ver dali para fora. Um dia lembrou-se de o
dar a uma quermesse, em que se tiravam rifas e se ganhavam prémios.
Quis a família ir à feira e a esposa, decidiu comprar uma
rifa, tal como fazia quando era miúda.
Qual o espanto de Anselmo, ao ver a sua mulher ganhar o Buda
lá de casa.
A esposa mirou e remirou o Buda e concluiu que era a sua
estátua. Olhou o marido de soslaio e percebeu a marosca. Ele detestava a imagem
e desfizera-se dela!
Desde esse dia, Anselmo nunca mais tocou no Buda, mas ao
passar por ele evita olhá-lo, não vá o diabo tecê-las e dar-lhe de novo sumiço,
para o ver, milagrosamente, regressar a casa.
Para cúmulo do azar, as amigas e amigos da família, sabendo do
afeto da sua esposa pelos Budas, sempre que se lembram, oferecem-lhe diferentes
Budas: uns mais pequenos, outros magros e uma coleção de anafados.
Agora a estante está toda dedicada à exposição dos Budas e o
Anselmo, ao referir-se ao facto chama-lhe de modo desanimado o “ Budário”.
Jorge C. Chora
4/9/2022
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