domingo, 4 de setembro de 2022

OS BUDAS

Se havia algo que Anselmo detestava ver, era a estatueta do Buda, colocada na estante da sala.

Um dia resolveu tirá-la do sítio e escondê-la na despensa, dentro de uma lata.

Pela tarde, um dos netos, apareceu-lhe com o Buda na mão e perguntou-lhe:

-Este não é o Buda da estante? Estava numa lata …

E Anselmo, fazendo-se surpreendido, voltou a colocá-lo no local do costume.

Não desistiu de o ver dali para fora. Um dia lembrou-se de o dar a uma quermesse, em que se tiravam rifas e se ganhavam prémios.

Quis a família ir à feira e a esposa, decidiu comprar uma rifa, tal como fazia quando era miúda.

Qual o espanto de Anselmo, ao ver a sua mulher ganhar o Buda lá de casa.

A esposa mirou e remirou o Buda e concluiu que era a sua estátua. Olhou o marido de soslaio e percebeu a marosca. Ele detestava a imagem e desfizera-se dela!

Desde esse dia, Anselmo nunca mais tocou no Buda, mas ao passar por ele evita olhá-lo, não vá o diabo tecê-las e dar-lhe de novo sumiço, para o ver, milagrosamente, regressar a casa.

Para cúmulo do azar, as amigas e amigos da família, sabendo do afeto da sua esposa pelos Budas, sempre que se lembram, oferecem-lhe diferentes Budas: uns mais pequenos, outros magros e uma coleção de anafados.

Agora a estante está toda dedicada à exposição dos Budas e o Anselmo, ao referir-se ao facto chama-lhe de modo desanimado o “ Budário”.

 

Jorge C. Chora

4/9/2022

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