domingo, 25 de setembro de 2022

O SUCESSO DE ANTÓNIO


Calcorreava montes e vales, por estradas poeirentas, às vezes lamacentas, em dias chuvosos, para ir aos bailes.

Sabia de cor e salteado onde se realizavam festas e bailaricos, desde as aldeias mais próximas às mais longínquas.

Ainda era adolescente, mas todos o conheciam. Quando chegava aos locais festivos,

perfilava-se, colocava o braço direito atrás das costas, fazia uma pequena vénia em frente da eleita para dançar e formulava o pedido:

-A menina dança?

Só pedia para dançar às meninas de cabelo comprido, a darem-lhes pela cintura.

Diziam que adorava os cabelos sedosos, rescendendo a jasmim e extremamente cuidados, uma vez que a sua mão permanecia no interior da cabeleira todo o tempo.

À medida que a sua fama crescia, tornou-se moda nas aldeias onde ia, as raparigas deixarem crescer o cabelo até à cintura.

Um belo dia demorou-se um pouco mais a introduzir a mão, no interior da cabeleira do par. Todas as meninas viram que tinha quatro dedos da mão direita, parcialmente cortados e a terminarem em forma de batata.

Um dos amigos que sabia que ele cortara os dedos numa máquina de cortar madeira, salvou a situação:

-Elas dizem que é um dos melhores encantos dele! Uma garantia de sucesso!

E foi a partir daí que eram elas e não ele, a perfilarem-se na sua frente e a fazerem-lhe o pedido:

- O menino dança?

 

 

P.S- História recriada a partir da vida de António Cargaleiro, um dos doentes também internado comigo na cardiologia do H. Stº Maria, em setembro de 2022.

 

       Jorge C. Chora


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