Calcorreava
montes e vales, por estradas poeirentas, às vezes lamacentas, em dias chuvosos,
para ir aos bailes.
Sabia de cor
e salteado onde se realizavam festas e bailaricos, desde as aldeias mais próximas
às mais longínquas.
Ainda era
adolescente, mas todos o conheciam. Quando chegava aos locais festivos,
perfilava-se,
colocava o braço direito atrás das costas, fazia uma pequena vénia em frente da
eleita para dançar e formulava o pedido:
-A menina
dança?
Só pedia
para dançar às meninas de cabelo comprido, a darem-lhes pela cintura.
Diziam que
adorava os cabelos sedosos, rescendendo a jasmim e extremamente cuidados, uma
vez que a sua mão permanecia no interior da cabeleira todo o tempo.
À medida que
a sua fama crescia, tornou-se moda nas aldeias onde ia, as raparigas deixarem crescer
o cabelo até à cintura.
Um belo dia
demorou-se um pouco mais a introduzir a mão, no interior da cabeleira do par. Todas
as meninas viram que tinha quatro dedos da mão direita, parcialmente cortados e
a terminarem em forma de batata.
Um dos
amigos que sabia que ele cortara os dedos numa máquina de cortar madeira,
salvou a situação:
-Elas dizem
que é um dos melhores encantos dele! Uma garantia de sucesso!
E foi a partir
daí que eram elas e não ele, a perfilarem-se na sua frente e a fazerem-lhe o
pedido:
- O menino
dança?
P.S-
História recriada a partir da vida de António Cargaleiro, um dos doentes também
internado comigo na cardiologia do H. Stº Maria, em setembro de 2022.
Jorge C. Chora
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