segunda-feira, 26 de setembro de 2022

BAIRRO ALTO D'OUTRAS ÉPOCAS

Nas vielas havia pielas,

abraços e amassos,

mulheres seminuas,

enchendo bolsos aos

chulos de brilhantina,

à luz da lua puxando,

clientes quase sem cheta.

Noutra esquina, oposta:

jogava-se à vermelhinha,

do bar chovia uma cadeira

e de repente, um grito,

do compincha da batota:

-Olha a bófia!

Desaparecia o dinheiro,

da vermelhinha nada sobrava,

nem pano nem copos

e muito menos o dinheiro.

Vinha arfando o anafado guarda,

brandindo o chanfalho,

com os larápios escapulindo,

mas por vezes apanhados

e então, merecidas chanfalhadas.

No meio da algazarra, das janelas

as moradoras despejam penicos,

fartas das poucas vergonhas.

Entretanto, das portas entreabertas

soavam fados e alguns miados,

conforme as posses dos donos

e a valia dos artistas, enquanto

continuavam as correrias, as escondidas

e nas esquinas se pintavam de vinhos,

as paredes já borradas de vómitos

e outras porcarias, lançadas,

por pessoas dobradas, em vielas

mais esconsas e fora de vistas!

Era assim o bairro, em princípios

de setenta e fins de sessenta,

enquanto em alguns andares

se ouviam palmas e os chamados:

-Meninas à sala!

E os jovens militares, saiam satisfeitos,

a caminho dos quartéis e da guerra,

com os bolsos vazios, a cabeça cheia,

transportando doenças venéreas,

como medalhas das gloriosas estreias!

     Jorge C. Chora

       26/8/2022

 

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