Nas vielas havia pielas,
abraços e amassos,
mulheres seminuas,
enchendo bolsos aos
chulos de brilhantina,
à luz da lua puxando,
clientes quase sem cheta.
Noutra esquina, oposta:
jogava-se à vermelhinha,
do bar chovia uma cadeira
e de repente, um grito,
do compincha da batota:
-Olha a bófia!
Desaparecia o dinheiro,
da vermelhinha nada sobrava,
nem pano nem copos
e muito menos o dinheiro.
Vinha arfando o anafado guarda,
brandindo o chanfalho,
com os larápios escapulindo,
mas por vezes apanhados
e então, merecidas chanfalhadas.
No meio da algazarra, das janelas
as moradoras despejam penicos,
fartas das poucas vergonhas.
Entretanto, das portas entreabertas
soavam fados e alguns miados,
conforme as posses dos donos
e a valia dos artistas, enquanto
continuavam as correrias, as escondidas
e nas esquinas se pintavam de vinhos,
as paredes já borradas de vómitos
e outras porcarias, lançadas,
por pessoas dobradas, em vielas
mais esconsas e fora de vistas!
Era assim o bairro, em princípios
de setenta e fins de sessenta,
enquanto em alguns andares
se ouviam palmas e os chamados:
-Meninas à sala!
E os jovens militares, saiam satisfeitos,
a caminho dos quartéis e da guerra,
com os bolsos vazios, a cabeça cheia,
transportando doenças venéreas,
como medalhas das gloriosas estreias!
Jorge C. Chora
26/8/2022
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