terça-feira, 24 de janeiro de 2023

A SAIA DO MOÇO


Há dias, ao atravessar a estação subterrânea da C.P. na Amadora, vi um jovem adulto a atravessá-la, trajando uma saia.

A saia era de um tom de camurça e não era minissaia: ia até aos joelhos.

Ninguém disse um ai. Todos viram e ninguém comentou absolutamente nada. Reparei, no entanto, numa jovem que vinha em sentido contrário.

Arregalou os olhos, que já de si eram grandes, ao vê-lo cruzar-se com ela de modo desembaraçado. Voltou ligeiramente a cabeça, seguindo-o mais uns segundos. Quase se podia ler o pensamento e julgo tê-lo conseguido fazer.

“Eu de calças e ele de saias. Em casa já nem saias tenho! Será que por baixo usa alguma coisa? Talvez umas de fio dental, como eu e as minhas amigas!

E se não usa nada? Não seria má ideia segui-lo, vê-lo sentado, de perna cruzada nalguma esplanada e confirmar se sim se não! Mas, se ele é peludo, mesmo que nada use, só conseguirei observar os seus pelos púbicos e julgarei tratar-se de umas trousses pretas…”

  Após um minuto de indecisão, em que esteve parada, mas, sem se voltar para trás, acabou por seguir o seu caminho, embora não serena, com a oportunidade perdida de poder ganhar o dia.

 

Jorge C. Chora

24/1/2023

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