Elevou as mãos ao céu quando conseguiu, nos princípios da década de setenta, mais propriamente em 73, um biscate a entregar cartas e telegramas, nos Correios, na Ericeira.
Para um jovem, era ouro sobre
azul, um biscate em agosto e a perspetiva de uns cobres no bolso.
Na época, as entregas dos
telegramas urgentes davam mais dinheiro do que os normais: uns fabulosos e
cobiçados vinte e cinco tostões!
Após ter dado graças a Deus
por ter conseguido que lhe dessem um telegrama urgente para entregar, criou
asas e num ápice estava na morada indicada.
Entregou o telegrama na casa
de uma viúva, que lhe pediu o favor de o ler, em virtude de não saber e querer
inteirar-se do conteúdo do mesmo.
Mal João Brás o leu, a viúva
caiu para o lado, após dar um grito de dor e desespero: o telegrama
anunciava-lhe a morte do filho.
Aflito teve de socorrer-se do
apoio da vizinhança que o ajudou a auxiliar a senhora. Tinha recebido um
presente envenenado ou melhor, envenenadíssimo!
Noutra
ocasião, teve de entregar uma carta na zona de campismo selvagem, existente na
altura, na Foz do Lizandro. As instruções para a entrega eram para a carta ser
entregue numa barraca amarela. Lá do alto, depararam-se-lhe inúmeras barracas
amarelas. Decidiu entregar a carta na mercearia após confirmar que a senhora
conhecia a destinatária.
Ao retornar
ao acampamento para entregar outras cartas para lá remetidas, foi abordado de
modo agreste pela destinatária da carta que ele tinha entregado na mercearia,
porque ela estava de relações cortadas com a merceeira que, ainda por cima era
sua cunhada!
Farto da
peixeirada, deixou um aviso alto e em bom som: a partir desse dia, as cartas
seriam entregues, às 11horas da manhã, só a quem estivesse presente. Quanto às
outras, seriam devolvidas e teriam de ir buscá-las ao Correio.
João Brás,
hoje ,mas só hoje, consegue achar graça aos momentos que passou a lutar por
vinte e cinco tostões, quando era jovem.
Jorge C.
Chora
13/1/2023
Sem comentários:
Enviar um comentário