quarta-feira, 20 de setembro de 2023

A LISBOA DAS TASQUINHAS

 

Na Lisboa das tasquinhas,

comiam-se pataniscas,

caldo verde em malgas,

bifanas e iscas ensopadas,

saídas de frigideiras

empapadas de gorduras,

bebiam-se copos de três,

e pastéis de bacalhau.

No meio da barulheira,

das encomendas gritadas,

dos empurrões ao balcão,

ainda se ouviam as vozes

roufenhas do Marceneiro

ou as tiradas da Hermínia,

emitidas por velhos rádios,

cobertos por naperons.

Num canto, dois ou mais gingões

jogavam à moedinha,

a ver quem pagava a rodada,

enquanto esperavam pelos

ganhos da noite, feitos

pelas mulheres que exploravam.

À porta assavam-se couratos e sardinhas

que enchiam de fumo a tasca

e alguns, no meio da fumarada,

 tentavam esgueirar-se sem pagar,

acabando por pagar em dobro,

com um galo e um olho negro.

Eram assim as tasquinhas,

porta sim, porta não,

por essa Lisboa fora,

feita de malandros e gente boa.

     Jorge C. Chora

   20/9 / 2023

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