João morava numa
cabana à beira-mar. Anexa à mesma, um pequeno barracão onde guardava os
apetrechos de pesca e um bote.
Um dia saiu
de madrugada no seu pequeno barco para pescar. Mal lançou a rede sentiu que
algo grande tinha apanhado. Com esforço puxou-a para o bote.
No seu
interior vinha uma linda mulher, ainda jovem, com um rabo de peixe. Era uma
sereia. Ela sorriu-lhe e disse-lhe:
- Tenho-te
visto todos os dias, sei que te chamas João porque os teus amigos pescadores
assim te chamam. Quero conhecer-te melhor, por isso entrei na tua rede. Também
sei que só pescas o que deves e respeitas o mar. Já te vi lançar à água
tartarugas, golfinhos e peixes pequenos.
- E tu minha
linda menina como te chamas e que idade tens?
- Tenho
dezoito, mais ou menos a tua idade, e chamo-me Sofia. Vivo no mar, ao pé da
rocha que fica ao pé da tua casa. Já te quis chamar, mas vejo-te tão cansado ao
regressares da pesca que tenho evitado. Nos dias de calor, quando dormes na
praia e tens dificuldade em adormecer costumo…
João
interrompeu-a:
- Não me
dias que és tu que cantas para eu adormecer…
- Sim, sou
eu. Já me quis deitar ao teu lado, mas só me dou na água embora possa
permanecer em terra por pouco tempo.
João
olhava-a admirado e não se coibiu de manifestar o seu agrado:
- És tão
bonita e cantas tão bem, Sofia. Tenho pena de só agora te conhecer…
A partir
daquele dia, Sofia ia ter com ele quando João pescava. Ele puxava-a para o
barco e conversavam. De vez em quando ela mergulhava e tornava a ir ter com ele
ao bote.
João
construiu-lhe uma pequena piscina, em pedra e chão de areia, ao pé da rocha e
um abrigo ao lado, onde passou a dormir. De dia ela estava com ele no bote e de
noite, dormia de mão dada, ele na rocha e ela na água.
Os anos
passaram-se. João tem a cabeça toda branca e o rabinho de Sofia já pouca escama
tem, mas há algo que nunca mudou: continuam a dormir de mão dada, ela na água e
ele em terra e Sofia a adormecê-lo, a cantar, como sempre fez.
Jorge C.
Chora
2/1/2024
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