segunda-feira, 27 de maio de 2024

A ASCENSÃO DAS RATAZANAS


Num mundo às avessas,

deixaram-nos de cócoras

e à mercê de ratazanas

desumanas e assassinas,

desobedientes e alcandoradas

em imunidades forjadas,

capazes de dizer não

às decisões internacionais.

Conscientes de saírem impunes

das canalhices quotidianas,

cometidas à luz do dia,

procriam outras ratazanas

infectas, só destinadas

a colher migalhas das suas palmas,

colhendo rações, quiçá envenenadas,

prática comum de ratazanas fujonas,

deixando de barrigas inchadas,

apodrecidas ao sol, as de menor importância,

mais tarde ou mais cedo abandonadas.

            Jorge C. Chora

            27/5/2027

domingo, 26 de maio de 2024

O CASAMENTO DE SÍLVIO

 


Por influência de seu pai, casou-se Sílvio com Beatriz. Ela era filha de um grande amigo dele, quase tão rico como ele.

Era Beatriz a mulher ideal para o seu filho Sílvio: bonita e rica.

O casamento realizou-se com pompa e circunstância, com separação de bens por exigência de Beatriz, e foi desde o início um tormento para Sílvio.

Na noite de núpcias, a inexperiência de Sílvio, serviu de chacota a Beatriz, com uma enorme perícia de índole sexual, devido à sua vasta experiência com os homens que já tivera.

Habituada a luxos, delapidou a sua fortuna em futilidades várias. Passados dez anos, a sua beleza esfumou-se, com noitadas, bebidas e aventuras com homens mais jovens. Sílvio enviuvou aos 48 anos, tendo Beatriz falecido aos 47, com a doença ainda pouco conhecida e que viria a ser designada como sida.

Deu-lhe Sílvio uma condigna morada no mausoléu da família.

Nos últimos dez anos, Sílvio não tocara na sua mulher, tal a repulsa e a pena que por ela sentia, ao vê-la tão decadente e ao saber que ela se entregava em urinóis públicos, cavalariças e antros fedorentos a qualquer um, satisfazendo os seus desejos sórdidos.

                                                                          //

Numa das idas ao veterinário com a sua gata, encontrou Antónia, recém-chegada à cidade. Ela era uma antiga colega do liceu, a única mulher que amara, mas que era mais velha 4 anos do que ele e que a sua timidez o impedira de lhe confessar o que sentia. Era a rapariga mais doce e bondosa que conhecera.

Perderam o contacto quando ela fora para o ultramar, pois o seu pai era militar e acabara por casar com um médico militar que lá fora colocado.

Soube por mero acaso que tivera 3 filhas e enviuvara há um ano, pois o marido falecera num acidente de automóvel.

Quando ela entrou, fixarem-se mutuamente, em silêncio, durante muito tempo.  Trazia ao colo um velho gato a que chamara Sílvio.

Aproximaram-se. Sílvio beijou-lhe as mãos, depois abraçaram-se e logo de seguida, beijaram-se longamente perante o olhar surpreso dos clientes do consultório.

Antónia antes de aceitar o casamento que Sílvio lhe propôs uns dias depois, disse-lhe que aceitava, mas tinha de lhe explicar uma situação especial sem a qual a união matrimonial não poderia acontecer.

Sílvio ouviu-a com toda a atenção:

- Lembras-te da Júlia, que foi nossa colega no liceu? É arquiteta como eu e minha sócia desde sempre. Acompanhou-me para África e regressou comigo.

Sílvio puxou pela sua memória e recordou-se vagamente de uma moça trigueira, de olhos azuis, muito magra e com uns seios proeminentes.

- É essa mesmo.

-Sim e o que é que se passa com ela?

Antónia olhou-o sem desviar o olhar e declarou: Ela foi, é e sempre será a mulher da minha vida.

Sílvio não queria acreditar no que ouvira.

-Calma Sílvio. Eu sempre amei um homem e uma mulher. A mulher foi sempre ela. O homem foi o meu marido enquanto viveu e agora és tu quem eu amo, Não me perguntes se gosto mais dela do que de ti, porque te direi sinceramente que gosto dos dois e não quero prescindir de nenhum de vós.

Sílvio, atordoado com a situação, perguntou-lhe:

- E agora o que eu faço. Sempre gostei de ti!

-Eu sei, mas eu sempre fui assim e não consigo ser de outra maneira. Amo-vos a ambos.

-Então tenho de te aceitar como és, porque não posso ficar sem ti!

- E ela aceita a situação?

-Claro que sim, pois o que ela mais quer é ver-me feliz, assim como eu a ela.

Um mês depois casaram-se. No palacete habitado por Sílvio, couberam as três filhas de Antónia, o casal e a Júlia. O quarto do casal comunicava com outro, adjacente, onde Júlia foi instalada e os dias que ficava com Antónia e os que com ele estaria, foram combinados. Nem tudo foi cumprido matematicamente, porque Antónia havia dias que sentia falta dos dois e amava um a seguir ao outro, mas nunca juntos.

Sílvio acomodou-se à situação. Ao menos sabia com quem a sua amada Antónia o traía ou melhor, com quem ela traía a sua querida Júlia, sem que ela própria traísse alguém, porque a relação era sabida e consentida. Viveram felizes e em paz, em boa harmonia com as filhas de quem Júlia era madrinha.

Júlia foi a primeira a falecer, tendo-se seguido pouco tempo depois Antónia e ambas foram para o mausoléu de família. O féretro fora mandado fazer para ser ocupado por tês pessoas. Quando a sua vez chegou, Sílvio foi colocado junto às duas mulheres da sua vida, por ordem expressa das suas filhas.

Jorge C. Chora

26/5/2024

quinta-feira, 23 de maio de 2024

A PAIXÃO

 

É um desatino,

um beijo sem fim,

num banco de jardim,

prazerosos ais em frenesim,

junção de dois corpos num só,

melodia iniciada em dó,

promessas entre espasmos,

juras eternas durante orgasmos.

        Jorge C. Chora

          23/5/2024

quarta-feira, 22 de maio de 2024

AVELHACA

 

A VELHACA

No funeral do marido,

nada de sua viúva querido,

duas lágrimas lhe tinham surgido.

A final dava o dito por não dito

e o seu marido não seria maldito?

A morte do esposo tinha-a comovido?

Naquele estado nunca a tinham visto.

O falecido não seria tão malquisto

e ela não era de sentimentos destituída?

-Pensaram os acompanhantes do funeral

- Quando ela esclareceu a situação:

- Uma lágrima derramei-a por pura alegria.

A outra, por profunda tristeza por só agora ter partido!

 

                 Jorge C. Chora

                       12/5/2024

domingo, 19 de maio de 2024

JOANA E JOEL

 


Joana e Joel namoravam há dois dias quando ela lhe perguntou:

- É melhor beijar ou ser beijado?

Joel fez figas e candidamente respondeu:

- Sinceramente não sei…

- Então não será bom experimentarmos? - propôs Joana com um ar sério.

- Sim, podemos até, fazer deste modo: um dia beijas-me tu e no outro beijo-te eu e logo saberemos, se é melhor beijar ou ser beijado.

Assim fizeram e ao fim de um mês perguntou Joel:

- Afinal é melhor beijar ou ser beijado?

Joana, cruzando os dedos, respondeu:

- Ainda não decidi. Temos de continuar mais tempo para tirarmos uma conclusão.

- Estou plenamente de acordo, anuiu Joel, colocando-se na posição de ser beijado porque era o dia dela o beijar.

Passados algum tempo, Joana sugeriu que deveriam passar a uma fase de relacionamento mais íntima e seguir o método semelhante ao do beijo: uma vez ficava ele por cima e no dia seguinte, trocavam de lugar e logo veriam qual resultava melhor.

Passados anos, continuam a ter as iniciativas alternadas, pertencendo a um num dia e ao outro no dia seguinte, porque ambos concluíram

que tanto fez como tanto faz, e o principal era continuar a ter prazer,

como já sabiam e sempre fingiram desconhecer.

Jorge C. Chora

19/5/2024

quinta-feira, 16 de maio de 2024

 MORENA

Morena,

de olhos verdes,

divina perdição,

abençoada até no andar,

de nádegas bailarinas,

subindo e descendo

ao ritmo do pecado.

Do céu vieste,

e para o inferno nos envias,

abençoada sejas

mesmo quando nos condenas,

somente a ver-te,

impedidos de tocar-te,

a aconchegar-nos nos teus seios,

porque as deusas adoram-se

e infelizmente não se possuem!

        Jorge C. Chora

           16/5/2024 

quarta-feira, 15 de maio de 2024

AI JESUS E AGORA!

 

Viu-a sem querer,

e surpreso ficou,

com o que viu

e preferia não ter visto!

Presenciou, em sítio esconso,

a mulher dos seus sonhos a defecar.

Mil vezes a imaginou,

 e desejou, com fervor,

vê-la nua pelo menos uma vez,

e agora ali estava ela, de cócoras,

a mulher amada,

dotada de um pénis bem visível.

E o que nunca pensou,

é que nunca deixasse de amá-la,

mesmo sabendo como ela era.

 

     Jorge C. Chora

        15/5/2024

terça-feira, 14 de maio de 2024

O PATO DESCALÇO

 

NO LAGO

VI UM PATO

SEM SAPATO.

COITADO,

DEI-LHE UM SAPATO,

MAS PORQUE É PATO

E DISPENSA SAPATO,

AINDA ME DEU UMA SAPATADA!

    JORGE C. CHORA

          14/5/2024

domingo, 12 de maio de 2024

O VELHO E O SENHOR

 

Sentado a uma mesa,

com muita frequência,

um velho conversava

com o Senhor!

Viam-no mexer os lábios

embora nada se ouvisse.

Só adivinhavam o interlocutor,

pelas mãos viradas ao céu.

Um dia um dos mais curiosos

perguntou-lhe:

- Pode saber-se de que fala e com quem fala?

- Claro que sim!

Peço ao Senhor, uma intervenção

para acabar com as guerras, com

os ditadores, genocidas e assassinos que governam países!

- E o que responde o Senhor?

- Diz-me sempre o mesmo:

- Meu velho, criei os seres dotados de livre-arbítrio!

Compete-vos a todos vós, pôr fim aos desacatos!

                  Jorge C. Chora

                    12/5/2024

 

sexta-feira, 10 de maio de 2024

AS LÁGRIMAS DE BÁ

 Grossas lágrimas

escorriam pelas

faces de Bá.

Na televisão

do restaurante,

passavam imagens

de um bebé despedaçado

à bomba, em Gaza,

e a sua mãe a recolher

e a embalar, carinhosamente,

os seus pedaços ao colo.

Na outra televisão,

mostravam uma idosa

ucraniana, desesperada,

enlouquecida, por ter perdido

de uma só vez, toda a família,

assassinada por um míssil,

enquanto dormiam na sua casa.

Bá soluçava alto, descontrolada.

Os outros clientes chamaram

o chefe de sala e ordenaram-lhe:

- Veja se retira aquela mulher daqui!

Queremos comer em paz!

        Jorge C. Chora

          10/5/2024

terça-feira, 7 de maio de 2024

MAU MARIA

 

   

-Sei no que pensas!

Pensar é algo tão pessoal

que ao isto ouvirmos,

no mínimo, sorrimos.

Quem tal afirma,

ao ver a dúvida

a bailar-nos nos olhos,

pergunta em tom de desafio:

-Queres a prova?

-Claro que sim!

-Queres ver-me,

 com um vestido transparente

e nada por baixo.

Desde esse dia, não duvido

que elas nos leem o pensamento!

     Jorge C. Chora

          7/5/2024

domingo, 5 de maio de 2024

O NOIVADO DO CÉU E DO MAR

 


Em dia benfazejo,

condoeu-se o vento

com a situação do céu

e do mar.

Tão próximos e tão distantes

um do outro, pois de permeio

estava sempre ele, o vento,

barrando uma aproximação,

talvez um irreprimível desejo

de um contato mais íntimo,

quiçá, uma ligação amorosa 

 entre ambos.

E o vento não perdeu tempo,

soprou o mar e o céu,

e empurrou-os para os braços

um do outro e o esperado aconteceu:

foi tal a intensidade do encontro,

que o mar subiu ao céu,

tendo este ficado submerso,

não se distinguindo um do outro.

Nesse mesmo dia ficaram noivos,

e todos os dias, sem falta,

quem olhar para o horizonte,

não diferencia o mar do céu,

porque se amam de tal modo

ao ponto de se tornarem um só!

E deste casamento resultaram

os peixes do mar, incluindo

os golfinhos e os peixes voadores,

que andam sempre a saltitar,

todos os dias sem falta,

para darem um beijo ao pai e à mãe

e que hoje vão dar mil beijos à mãe,

por ser o Dia da Mãe.

        Jorge C. Chora

           5/5/2024

 

 

 

sábado, 4 de maio de 2024

DIA DAS MÃES

 

  

As mães são feitas de ternura e pedaços de céu: são seres celestiais a que se convencionou chamar de anjos da guarda, com a missão de apaparicarem os seus filhos.

Jorge C. Chora

4/5/2024

quarta-feira, 1 de maio de 2024

O LUXO DA POEDEIRA


Olhavam-na com desdém,

mal disfarçando a inveja

a consumi-las de modo indisfarçável.

A galinha poedeira era uma estrela,

apaparicada pelo enorme

tamanho e qualidade dos ovos,

alimentada de modo especial,

habitando um local higienizado.

As outras galinhas,

alcunhavam-na de Madame,

um misto de desprezo e raiva,

tal o tratamento diferenciado,

tão acima do usufruído por elas.

Iam aos arames quando ouviam

“As quatro estações de Vivaldi” ou

“A flauta mágica” quando ela punha os ovos.

Um dia, a Madame explicou-lhes,

com o bico trémulo,

que a música servia para apaziguar o seu

cacarejar de dor, sempre que punha um

dos gigantescos ovos e ato contínuo,

mostrou-lhes o enorme rabo inchado.

Desde esse dia, as galinhas agradecem

a um deus galináceo, numa ladainha

repetida à saciedade,” Gratias Dominus”

não terem sido selecionadas como

poedeiras de ovos descomunais!

            Jorge C. Chora

              1/5/2024