O “Milionário”cambaleava, de modo perigoso, até conseguir agarrar-se ao balcão da taberna. Ancorado, mantinha-se durante horas no seu posto. Ninguém sabia que idade tinha, ou qualquer outra informação pessoal a seu respeito. O que todos sabiam e podiam afiançar, é que ele sempre ali estivera. Talvez tivesse ali nascido, quiçá!
-O que sai hoje “Milionário? – perguntou-lhe o dono.
-O costume…
Um copo de bagaço e um croquete surgiram, como que por artes mágicas, à sua frente.
-Milionário? – Interrogou-o um recém-chegado que não era cliente da casa. – Já foi rico… empobreceu com a crise…
O visado sorriu, pigarreou, empertigou-se um pouco, endireitou a gola esfarrapada da camisa e disse:
-O que lhe posso dizer, com testemunhas, é que durmo todos os dias rodeado de tanto, mas tanto dinheiro, que acredito que V. Exa. nunca o terá, por muito rico que possa ser…
-Então é rico mas gosta de passar por pobre…com a criminalidade que existe hoje, nem é mal pensado…é uma excelente estratégia…
-Se assim fosse, eu era uma autêntica aberração…uma cavalgadura… passar por pobre, sendo rico…imaginem… - desabafou o vagabundo que dormia rodeado por uma fortuna incalculável, afastando e juntando os cotovelos ao corpo, como se fosse voar.
-Então não percebo nada! – Concluiu espantado o estranho.
-Vou explicar-lhe…não quero que fique com minhocas na cabeça… - e antecipando os segundos de fama, aclarou a voz, afectada pelas noites ao luar e pelos sonhos com as notas de euros.
Ainda não acabara a frase quando o gerente do banco ao lado da taberna, assomou à porta e disse:
-Ó Milionário, vai lá tirar o teu colchão da porta do banco porque está na hora de abrirmos…
Jorge C. Chora
sexta-feira, 19 de março de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Em tempo de crise há milionários como este!
ResponderEliminarMais uma boa história.
ResponderEliminarComo diz :Em tempos de crise há milionários como este" concordo plenamente e acrescento que nem sempre o que luz é ouro.