Baixou ao hospital e foi um corrupio de médicos, enfermeiros e técnicos ao seu redor. Ninguém sabia o que o homem tinha. Convocaram-se especialistas que nem ao diabo lembrava… e nada. Em desespero de causa, e à socapa das múltiplas direcções de serviço, chamaram uma bruxa, amiga da empregada da limpeza.
-Não consigo descobrir nada! Vejo tudo turvo…ele sabe o que tem e cala-se…coisa boa não é… - e convocou uma assembleia de amigas e colegas para a auxiliarem.
Calado que nem um rato, o homem não dizia, não disse nem diria o que se passara: simplesmente mordera a sua própria língua, que era tão peçonhenta ou tão pouco, que o envenenara de modo brutal e incompreensível para a comunidade médica.
Aflitos com a evolução dos sintomas contraditórios que apresentava, que apareciam e desapareciam num abrir e fechar de olhos, acharam por bem chamar algum familiar ou conhecido que pudesse dar pormenores, sintetizar a história clínica, dizer algo que os ajudasse a diagnosticá-lo e consequentemente a tratá-lo.
Já conformados com a impossibilidade de o curarem, levantaram as mãos ao céu, quando o maqueiro entrou e exclamou:
-Olha o Peçonha! O que é que te aconteceu ó má-língua do diabo? Não me digas que mordeste a tua língua venenosa…
O especialista em venenos exclamou:
- Eureka! É mesmo isso, o homem está envenenado! Quase que se ouve o som da cascavel …
O maqueiro, que conhecia o Peçonha de ginjeira, acalmou os presentes e disse:
-É fácil tratá-lo… é só fazerem-lhe umas perguntas…
-Perguntas? Mas que perguntas? - Interrogaram-se os presentes.
-Quaisquer…desde que ele liberte o veneno…
E os presentes cada vez mais desconfiados, cruzaram os braços e esperaram pela intervenção do maqueiro que não se fez rogado:
-O que achas de Beethoven?
-O que se pode esperar de um compositor cujo nome significa “canteiro de rabanetes”?
-Canteiro de rabanetes?
-Sim…em holandês… é mesmo isso o que significa, por isso só pode ser um compositor de 2ª categoria…
-O Ferrari é um dos melhores automóveis da actualidade…
-Um carrito de trazer por casa…
E perante o espanto da assistência, o Peçonha recobrou as cores, levantou-se da cama
e saiu como se nada tivesse acontecido.
O Peçonhas anda por aí…
Jorge C. Chora
quarta-feira, 24 de março de 2010
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