sexta-feira, 8 de abril de 2011

Ai mano velho!

Após um dia de trabalho insano, já quase à porta de casa, depara com uma senhora com aspecto tão cansado como o dele. Ela faz-lhe sinais para parar. Hesita mas resolve praticar a boa acção do dia e pára o carro.

-Em que posso ajudá-la minha senhora?

-A paragem de autocarros é longe?

-Não … é relativamente perto…

-Se me levasse lá… - suplica-lhe com um ar de cachorrinha abandonada.

Condói-se a boa alma, não sem que antes tenha tentado esquivar-se, pois morava mesmo ali ao pé e não lhe dava jeito nenhum levá-la.

Pára no local indicado e deseja-lhe a continuação de uma boa tarde. A mulher lacrimeja, diz que está muito cansada e pede-lhe que a leve até casa, a um lugarejo que distava uns quilómetros dali.

O bom samaritano começa a aborrecer-se e por mais que insista ela não sai. Sente-se forçado a conduzi-la, perante as lágrimas que não cessam.
Quase a chegar ao destino a passageira desata a soluçar.

-Mas o que foi agora? - interroga-a, impaciente.

- É que preciso de medicamentos …só me faltam 5 euros…

Farto da situação puxa da carteira mas para seu azar só tinha uma nota de dez. Dá-lha.
Ela volta à carga:

-Também preciso de ir à padaria…se me desse…

O caldo entornou-se.

-Também quer que lhe vá fazer o jantar?

-Já agora…se for possível… - e sai, sem sombra de cansaço, em passo ligeiro, fresca que nem uma alface, lançando gritos que atroaram os ares:

-Iuu…iuu …iuuuu

E os burricos que estavam na pracinha, ao ouvirem os poderosos zurros, arrebitaram as orelhas e disseram para os seus botões:

-Ai mano velho… ela já te passou a perna!

Jorge C. Chora

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