sexta-feira, 1 de abril de 2011

A Amiga da Frederica

Havia algo de familiar na senhora que acabara de entrar na sala, embora não soubesse dizer bem o quê. Olhou-a e remirou-a de forma disfarçada mas continuou sem saber qual a particularidade que lhe chamava a atenção. Desistiu.

De repente o seu olhar tornou a procurar a senhora e fixou-se nas calças que ela trajava. O tecido era igualzinho ao do cortinado da sua sala. Aí estava a
malfadada familiaridade que o trazia confuso. Ela reparou no olhar fixo do cavalheiro, sorriu-lhe, passou a seu lado e disse-lhe:

- São iguais às cortinas da sua sala? – e agarrou com dois dedos as suas calças, puxando o tecido ligeiramente para o lado.

Assustou-se. Será que ela lhe tinha lido o pensamento? interrogou-se. Mal acabara de pensar nisso quando ela o tornou a surpreender:

-Está a pensar se eu li o seu pensamento? – e mostrou os seus dentinhos de autêntica fada sorridente.

Sentiu-se mal. O que lhe estava a acontecer saía do seu controlo. Ou ela lhe lia o seu pensamento ou ele era tão transparente que qualquer um o lia.

-Esteja descansado, o senhor não é tão transparente que qualquer consiga ler o que pensa! – declarou, transbordando simpatia.

Cada vez mais surpreso, incapaz de raciocinar e de falar, apoderou-se de si a indesejável gaguez dos momentos difíceis, que o faziam passar por maus momentos:

-Pe…pe …ço-lhe desculpa por…por…

-Não se atemorize… A sua esposa não se chama Frederica?

Ao ouvir o nome da esposa pronunciado pela desconhecida, temeu o pior. Estava perante quem? Nunca acreditara em bruxas, mas agora estava como os castelhanos”…mas que as há, há…”

A senhora avançou, determinada, na sua direcção , beijou-o em ambas as faces e tratou-o pelo nome:

-Esteja descansado senhor João…se bem me lembro é assim que se chama…

O homem ficou pálido, para logo de seguida ficar da cor de um tomate maduro ao ouvir o seu nome.Preparou-se para tudo.Que desfeita teria feito?O mais engraçado é que nem se recordava do seu nome,nem da cara,nem...

-É que eu e a sua esposa encontrámo-nos quando comprámos o mesmo tecido, na mesma loja. Achámos graça ao facto de eu querer o tecido para umas calças e ela para umas cortinas. Ao aprofundarmos a conversa, descobrimos que fomos colegas da escola primária e trocámos informações …

-Uf! – exclamou João, retribuindo os beijos à amiga da Frederica.

Jorge C. Chora

2 comentários:

  1. E se nos lessem o pensamento?Já pensou qual seria a sua reacção?

    ResponderEliminar
  2. Irra! que confusão. As calças da côr do cortinado. Ele há cada uma!

    ResponderEliminar