domingo, 3 de junho de 2012

As marradinhas do chibo

Todos os dias visitava o seu rebanho de cabras. Quando chegava, elas subiam o monte, rodeavam-no e recebiam em troca folhas de oliveira que comiam deliciadas. Passado um bocado sentava-se na mesa rústica que ali construíra. Um pequeno chibo aproximava-se, saltava para o tampo, fitava o dono e esperava que ele aproximasse a cabeça e dava-lhe uma marradinha suave.

Só ou acompanhado, a cena repetia-se todos os dias. Um vizinho ouviu contar o que se passava e, céptico militante, discípulo de S.Tomé, resolveu certificar-se da veracidade do caso. Pela tardinha, quando sabia que o proprietário lá não estava foi ter com a cabrada. O rebanho subiu ao seu encontro e deu-lhes umas folhinhas que trouxera. Procurou a mesa e sentou-se. Do chibo nem sinal.

Farto de esperar, quando fez menção de se levantar, viu o chibinho subir numa correria o monte na sua direcção. “Agora é que vou ver se é ou não verdade o que me dizem”, resmungou de mau humor, o homem que duvidava de tudo e de todos. Viu-o trepar para a mesa. Fechou os olhos e aproximou a testa do cabritinho.

Mal acabara de os fechar, um enorme bode surgiu de trás de uma moita, saltou para cima da mesa, empurrou o cabritinho e deu-lhe uma cornada tal, que ainda hoje está para saber o que se passou.

O efeito da marrada foi tão devastador, que o homem ainda hoje julga que é “Inginheiro” . Diz disparates com um à vontade de meter dó e estende o barrigão, dizendo, de modo convicto, a tudo o que ouve:

- Hum ..hum… não é bem assim…

Nos tempos que correm, há quem suspeite que tenham sido muitas as pessoas, com responsabilidades e sem elas, que visitaram, à sorrelfa, a quinta e tiveram um mau encontro com o sabido do bode, aliás, um verdadeiro cabrão (pelo tamanho e feitio).

Jorge C. Chora

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