segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A fada dos pequenos poderes


 Sorriam as fadas com os poderes que a sua rainha lhes atribuíra. Doravante seriam fadas de plenos poderes. A cerimónia fora linda e as varinhas de condão que tinham recebido eram um verdadeiro encanto. Só uma pequena fada permanecia no fundo da sala, muito quieta e calada. Ninguém dera por ela, muito encolhida e quase escondida.

 Quando a rainha se apercebeu que se esquecera de lhe conceder poderes, era tarde: Já distribuíra todos os que eram importantes. Deu voltas e mais voltas à sua imaginação, tentando a todo o custo recordar-se de algum que tivesse sobrado. Foi tanta a aflição que uma dor de barriga muito incómoda, tomou conta de si. Eis senão quando lhe surgiu a ideia de conceder à pequena fada o poder de curar dores de barriga a quem as tivesse, e de as dar a quem as merecesse.

Agradeceu-lhe a pequena fada a preocupação tida e, de imediato, sem pedir licença, usou os poderes concedidos e libertou a rainha das dores de barriga que a afligiam. A acção agradou de sobremaneira à rainha, até porque foi praticada de modo instintivo e sem procurar qualquer retribuição, pois a fadinha não disse ai nem ui, limitando-se a sair da sala aos pulinhos.

Lá fora, enquanto caminhava pelo meio das outras fadas, escutou risinhos insistentes e viu algumas delas agarrarem-se às barrigas enquanto diziam:

-Ó fadinha dos pequenos poderes…tira-nos estas dores horrorosas por favor…

Ela sorriu e continuou o seu caminho, sendo alvo de chacota por parte de mais algumas das colegas, de tal forma que a fadinha decidiu dar-lhes uma lição. Estendeu a sua varinha e concedeu-lhes o desejo contrário ao que tinham expresso: deu-lhes uma dor de barriga tão violenta, que as outras fadas tiveram de apertar o nariz, tal o cheiro pestilento exalado por elas, que nem sequer tiveram tempo de correr para a casa de banho.

-Agora que tiveram umas dores de barriga a sério, é com todo o prazer que vos vou satisfazer o vosso pedido e aliviar-vos do incómodo. Logo a seguir, empunha a sua varinha e faz desaparecer as horrorosas dores.

Malcheirosas e envergonhadas, pediram desculpa à pequena fada e ofereceram-se para lhe atribuírem alguns dos seus excessivos poderes.

-Muito obrigada colegas, os pequenos poderes que tenho bastam-me e sobram-me…

-Ninguém tem dúvidas disso…-concluíram as fadas, ansiosas por um bom banho.

Jorge C. Chora

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