Sorriam as fadas com
os poderes que a sua rainha lhes atribuíra. Doravante seriam fadas de plenos
poderes. A cerimónia fora linda e as varinhas de condão que tinham recebido
eram um verdadeiro encanto. Só uma pequena fada permanecia no fundo da sala,
muito quieta e calada. Ninguém dera por ela, muito encolhida e quase escondida.
Quando a rainha se
apercebeu que se esquecera de lhe conceder poderes, era tarde: Já distribuíra
todos os que eram importantes. Deu voltas e mais voltas à sua imaginação,
tentando a todo o custo recordar-se de algum que tivesse sobrado. Foi tanta a
aflição que uma dor de barriga muito incómoda, tomou conta de si. Eis senão
quando lhe surgiu a ideia de conceder à pequena fada o poder de curar dores de
barriga a quem as tivesse, e de as dar a quem as merecesse.
Agradeceu-lhe a pequena fada a preocupação tida e, de
imediato, sem pedir licença, usou os poderes concedidos e libertou a rainha das
dores de barriga que a afligiam. A acção agradou de sobremaneira à rainha, até
porque foi praticada de modo instintivo e sem procurar qualquer retribuição,
pois a fadinha não disse ai nem ui, limitando-se a sair da sala aos pulinhos.
Lá fora, enquanto caminhava pelo meio das outras fadas,
escutou risinhos insistentes e viu algumas delas agarrarem-se às barrigas
enquanto diziam:
-Ó fadinha dos pequenos poderes…tira-nos estas dores
horrorosas por favor…
Ela sorriu e continuou o seu caminho, sendo alvo de chacota
por parte de mais algumas das colegas, de tal forma que a fadinha decidiu
dar-lhes uma lição. Estendeu a sua varinha e concedeu-lhes o desejo contrário
ao que tinham expresso: deu-lhes uma dor de barriga tão violenta, que as outras
fadas tiveram de apertar o nariz, tal o cheiro pestilento exalado por elas, que
nem sequer tiveram tempo de correr para a casa de banho.
-Agora que tiveram umas dores de barriga a sério, é com todo
o prazer que vos vou satisfazer o vosso pedido e aliviar-vos do incómodo. Logo
a seguir, empunha a sua varinha e faz desaparecer as horrorosas dores.
Malcheirosas e envergonhadas, pediram desculpa à pequena fada
e ofereceram-se para lhe atribuírem alguns dos seus excessivos poderes.
-Muito obrigada colegas, os pequenos poderes que tenho
bastam-me e sobram-me…
-Ninguém tem dúvidas disso…-concluíram as fadas, ansiosas
por um bom banho.
Jorge C. Chora
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