Uma explosão de alegria alastrou pelo laboratório. O
comprimido roxo ganhara o prémio do grémio industrial. Naquela semana era a
terceira instituição a atribuir-lhe distinções. Os elogios, por parte de alguns
empresários, não abrandavam desde que o medicamento fora descoberto. A produção
triplicara, os custos tinham sido reduzidos e os lucros tinham aumentado em
flecha.
O medicamento surgira
por mero acaso e era um inibidor da produção de urina e de fezes pelo período
de oito a dez horas diárias. Alguns empresários tornaram a toma do medicamento
obrigatória para os trabalhadores.
Um coro de protestos surgiu por parte do mundo do trabalho.
As associações humanitárias juntaram-se às reclamações. As investigações
médicas alertaram para o perigo que o medicamento podia representar.
Algumas associações de empresários fizeram orelhas moucas às
advertências e teceram considerações elogiosas e apresentavam-no como um avanço
para a melhoria da produtividade.
As doenças do foro urológico e intestinal aumentaram de
forma aterradora. O coordenador do projecto que estivera na base da descoberta,
era convidado para os foros económicos para defender a inexistência de efeitos
colaterais. Primeiro recusou-se, mas depois sucumbiu ao peso das compensações
monetárias.
No decurso de vários investimentos falhados, o laboratório
fechou. O cientista, com o decurso do tempo, foi obrigado a procurar emprego.
Contrariamente ao que pensara, não foi fácil consegui-lo. Quando o obteve, no
primeiro dia de trabalho, antes de entrar, um segurança, enorme, chamou-o e apontou-lhe dois comprimidos
roxos:
-Faça o favor de tomá-los.
-Dois? -
surpreendeu-se o cientista.
-Ordens da administração… aqui a produtividade é dupla…
-alegou, de sobrolho arregalado, o segurança.
Jorge C. Chora
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