domingo, 9 de dezembro de 2012

A riqueza numa receita


Três amigos discutiam, de modo acalorado, uma forma de enriquecerem. Não conseguiram chegar a nenhuma conclusão. Quando se preparavam para sair, um homem de óculos, de aros redondos, muito magro, calvo, com um sorriso bondoso, disse-lhes:

-Cheguei há bocado e apercebi-me de que discutiam um projecto que vos tornasse ricos…

-Sim…e depois… - repeliram-no, aborrecidos com a intromissão.

Gostaria de vos ajudar. Sei que não pediram conselhos, e se os quisessem tinham-nos pedido…

-E então!? – questionaram, irritados, os três.

-Peço-vos desculpa…têm razão…foi uma interrupção indesculpável… -e retirou-se, saindo da sala.

Pouco depois, os três chegaram à conclusão de que o podiam ouvir e correram atrás dele.

-Quem pede agora desculpa somos nós. Gostávamos de o ouvir, se ainda quiser dar-nos um conselho….

-O que tenho a dizer-vos é muito breve. Vou dar-vos a morada de uma pessoa que vos auxiliará. Foi ela que me ajudou a enriquecer.

No dia seguinte, os três tocaram ao portão da quinta que lhes fora indicada e esperaram algum tempo. Ele abriu-se automaticamente. Um enorme cão estava sentado, muito calmo, no início do caminho. Indecisos, os visitantes ficaram do lado de fora. O cão levantou-se, abanou o rabo e foi ter com eles. Colocou-se-lhes de lado e iniciou, devagar, a marcha para o interior. Seguiram até um casarão onde um ancião, muito pequeno e de cabelos brancos os esperava.

Foram conduzidos à presença de uma senhora ainda mais idosa. Ela sorriu-lhes e ofereceu a face para que eles a beijassem. O visitante mais novo deixou-se ficar para trás e saiu sem a beijar. O cão acompanhou-o até ao portão.

D. Isaura convidou os que ficaram a segui-la até à cozinha. Em cima da mesa estavam três envelopes.

-Escolham dois e abram-nos… -convidou a dona da casa.

Abertos os envelopes, foram autorizados a ler as folhas manuscritas que continham.

-Receitas culinárias? O que é que isto tem a ver com…

-Com o vosso desejo de enriquecer? Tudo! O senhor que vos recomendou, enriqueceu com uma única receita – respondeu a senhora idosa.
Entreolharam-se. A dúvida assaltou-os. Estaria ela boa de cabeça? Estaria a brincar com eles?

-Claro que a receita é só um bom ponto de partida. O resto é trabalho… e mais aquilo que for preciso… - disse, misteriosamente a senhora.

Um dos amigos desatou à gargalhada:

-A riqueza numa receita! Era bom era!

Os dois desistentes partiram sem se despedirem do amigo.
Muitos Verões depois, num dia de muito calor, estes dois homens compareceram a uma entrevista de emprego. Na sala onde estavam, havia um quadro em lugar de destaque. Aproximaram-se, curiosos, para verem mais de perto do que se tratava. O entrevistador ao vê-los à volta do quadro, informou-os:

-Foi essa receita que deu origem à fortuna do dono desta empresa….

Mal o funcionário introduziu os nomes dos dois amigos no computador, surgiu-lhe um aviso que lhe ordenava a entrega de dois envelopes aos entrevistados. Apressou-se a ir buscá-los e a dar-lhes.

Quando os dois amigos as abriram, encontraram duas receitas culinárias e algum dinheiro, juntamente com um pequeno bilhete que dizia:” Nunca é tarde para concretizar o sonho de ser rico. Boa sorte”. Os bilhetes estavam assinados: “O amigo que ficou com a outra receita.”

-E ele a dar-lhe, de novo, com a riqueza numa receita… ! - exclamaram, furiosos, em uníssono.

Jorge C. Chora


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