Três amigos discutiam, de modo acalorado, uma forma de
enriquecerem. Não conseguiram chegar a nenhuma conclusão. Quando se preparavam
para sair, um homem de óculos, de aros redondos, muito magro, calvo, com um
sorriso bondoso, disse-lhes:
-Cheguei há bocado e apercebi-me de que discutiam um
projecto que vos tornasse ricos…
-Sim…e depois… - repeliram-no, aborrecidos com a
intromissão.
Gostaria de vos ajudar. Sei que não pediram conselhos, e se
os quisessem tinham-nos pedido…
-E então!? – questionaram, irritados, os três.
-Peço-vos desculpa…têm razão…foi uma interrupção
indesculpável… -e retirou-se, saindo da sala.
Pouco depois, os três chegaram à conclusão de que o podiam
ouvir e correram atrás dele.
-Quem pede agora desculpa somos nós. Gostávamos de o ouvir,
se ainda quiser dar-nos um conselho….
-O que tenho a dizer-vos é muito breve. Vou dar-vos a morada
de uma pessoa que vos auxiliará. Foi ela que me ajudou a enriquecer.
No dia seguinte, os três tocaram ao portão da quinta que
lhes fora indicada e esperaram algum tempo. Ele abriu-se automaticamente. Um
enorme cão estava sentado, muito calmo, no início do caminho. Indecisos, os
visitantes ficaram do lado de fora. O cão levantou-se, abanou o rabo e foi ter
com eles. Colocou-se-lhes de lado e iniciou, devagar, a marcha para o interior.
Seguiram até um casarão onde um ancião, muito pequeno e de cabelos brancos os
esperava.
Foram conduzidos à presença de uma senhora ainda mais idosa.
Ela sorriu-lhes e ofereceu a face para que eles a beijassem. O visitante mais
novo deixou-se ficar para trás e saiu sem a beijar. O cão acompanhou-o até ao
portão.
D. Isaura convidou os que ficaram a segui-la até à cozinha.
Em cima da mesa estavam três envelopes.
-Escolham dois e abram-nos… -convidou a dona da casa.
Abertos os envelopes, foram autorizados a ler as folhas
manuscritas que continham.
-Receitas culinárias? O que é que isto tem a ver com…
-Com o vosso desejo de enriquecer? Tudo! O senhor que vos
recomendou, enriqueceu com uma única receita – respondeu a senhora idosa.
Entreolharam-se. A dúvida assaltou-os. Estaria ela boa de
cabeça? Estaria a brincar com eles?
-Claro que a receita é só um bom ponto de partida. O resto é
trabalho… e mais aquilo que for preciso… - disse, misteriosamente a senhora.
Um dos amigos desatou à gargalhada:
-A riqueza numa receita! Era bom era!
Os dois desistentes partiram sem se despedirem do amigo.
Muitos Verões depois, num dia de muito calor, estes dois
homens compareceram a uma entrevista de emprego. Na sala onde estavam, havia um
quadro em lugar de destaque. Aproximaram-se, curiosos, para verem mais de perto
do que se tratava. O entrevistador ao vê-los à volta do quadro, informou-os:
-Foi essa receita que deu origem à fortuna do dono desta
empresa….
Mal o funcionário introduziu os nomes dos dois amigos no
computador, surgiu-lhe um aviso que lhe ordenava a entrega de dois envelopes
aos entrevistados. Apressou-se a ir buscá-los e a dar-lhes.
Quando os dois amigos as abriram, encontraram duas receitas
culinárias e algum dinheiro, juntamente com um pequeno bilhete que dizia:” Nunca
é tarde para concretizar o sonho de ser rico. Boa sorte”. Os bilhetes estavam
assinados: “O amigo que ficou com a outra receita.”
-E ele a dar-lhe, de novo, com a riqueza numa receita… ! - exclamaram,
furiosos, em uníssono.
Jorge C. Chora
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