quinta-feira, 9 de março de 2017

REQUIEM PARA A MULHER SEM CHETA



Morreu de vergonha
a mulher sem cheta
a quem nem a sede nem a fome
 tinham conseguido vencer.
Resistiu até ao fim,
escondeu a miséria,
silenciou o ruído
 do seu estômago vazio,
dos sonhos traídos,
dos vexames sofridos.
Morreu de vergonha
ao ser-lhe penhorado
o último refúgio,
por ser pobre e não ter cheta.
Aos aristocratas d’outrora,
assistia-lhes o privilégio
de se suicidarem por
vergonha de terem
cometido actos infamantes
ou de lesa-majestade.
À mulher de agora,
restou-lhe morrer
de vergonha, unicamente
por ser pobre e não ter cheta.


Jorge C. Chora

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