Morreu de vergonha
a mulher sem cheta
a quem nem a sede nem a fome
tinham conseguido
vencer.
Resistiu até ao fim,
escondeu a miséria,
silenciou o ruído
do seu estômago vazio,
dos sonhos traídos,
dos vexames sofridos.
Morreu de vergonha
ao ser-lhe penhorado
o último refúgio,
por ser pobre e não ter cheta.
Aos aristocratas d’outrora,
assistia-lhes o privilégio
de se suicidarem por
vergonha de terem
cometido actos infamantes
ou de lesa-majestade.
À mulher de agora,
restou-lhe morrer
de vergonha, unicamente
por ser pobre e não ter cheta.
Jorge C. Chora
Sem comentários:
Enviar um comentário