sexta-feira, 24 de março de 2017

O MÚSICO DA BUZINA



Os olhos quase lhe saltam das órbitas: gravitam a uma velocidade ímpar, seguindo tudo o que tem rodas e mexe. Mal um carro surge na rua, entra em frenesim.

Postado no passeio, até rezaria se estivesse com as contas em dia com o Sereno. Não vale a pena fazê-lo. Receia correr o risco de ver o pedido atendido e cobrado por Satanás e desse tem ele medo . Tem esperança de que o incauto acabado de chegar, estacione em frente ao portão da sua garagem. O condutor abranda, mas não encontra um lugar.

Percorre o local duas vezes e à terceira, estaciona frente ao portão colectivo da garagem, sob o nariz do agitado observador.  Apressado, corre em direcção ao seu carro, estacionado no interior. Liga-o e sobe a rampa a toda a pressa. Trava uns centímetros frente ao que lhe impede a saída e buzina, buzina e torna a buzinar. Minutos depois surge alvoroçado o dono da viatura que lhe bloqueia a entrada, retira-o e pede-lhe mil desculpas.

Dá uma pequena volta à praça, para que não digam que não precisava de sair e regressa à garagem. Deixa-se ultrapassar por alguém que chega. Pede a todos os santinhos que o “transgressor” lhe impeça a entrada. Nada acontece porque surge uma vaga. Sopra desiludido. Parecendo que não, é menos uma oportunidade de buzinar.

Retorna ao seu posto no passeio. Segue com os olhos outro carro acabado de chegar. Saliva. Pode ser que tenha sorte e passe mais um bom bocado da manhã a tocar à buzina.

 Ultimamente anda até a pensar em aperfeiçoar os seus toques de buzina e a aprender a tocá-la por pauta.



Jorge C. Chora

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