Os olhos quase lhe saltam das órbitas: gravitam a uma
velocidade ímpar, seguindo tudo o que tem rodas e mexe. Mal um carro surge na
rua, entra em frenesim.
Postado no passeio, até rezaria se estivesse com as contas
em dia com o Sereno. Não vale a pena fazê-lo. Receia correr o risco de ver o
pedido atendido e cobrado por Satanás e desse tem ele medo . Tem esperança de
que o incauto acabado de chegar, estacione em frente ao portão da sua garagem.
O condutor abranda, mas não encontra um lugar.
Percorre o local duas vezes e à terceira, estaciona frente
ao portão colectivo da garagem, sob o nariz do agitado observador. Apressado, corre em direcção ao seu carro,
estacionado no interior. Liga-o e sobe a rampa a toda a pressa. Trava uns
centímetros frente ao que lhe impede a saída e buzina, buzina e torna a
buzinar. Minutos depois surge alvoroçado o dono da viatura que lhe bloqueia a
entrada, retira-o e pede-lhe mil desculpas.
Dá uma pequena volta à praça, para que não digam que não
precisava de sair e regressa à garagem. Deixa-se ultrapassar por alguém que
chega. Pede a todos os santinhos que o “transgressor” lhe impeça a entrada. Nada
acontece porque surge uma vaga. Sopra desiludido. Parecendo que não, é menos
uma oportunidade de buzinar.
Retorna ao seu posto no passeio. Segue com os olhos outro
carro acabado de chegar. Saliva. Pode ser que tenha sorte e passe mais um bom
bocado da manhã a tocar à buzina.
Ultimamente anda até
a pensar em aperfeiçoar os seus toques de buzina e a aprender a tocá-la por pauta.
Jorge C. Chora
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