segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

A GALINHA QUE SÓ SABIA MARCHAR


Victor gostou dela logo que a viu. Cacarejava, batendo as asas ao ritmo do vento. No recinto onde se encontrava, uma marcha marcial atroou os ares. Eis que a bela galinha ganhou nova vida. Marchou decidida, de modo bélico e cadenciado, como se estivesse numa parada militar, peito e penas ao vento, quase a ouvir-se o tilintar de medalhas. A um canto do espaço, um galo vesgo aplaudia-a, sacudindo as asas e cantando para a sua pupila.
Achou graça e comprou-a.
Já em casa, o dono teve a maior das surpresas: a ave, afinal só sabia marchar. Fosse qual fosse a canção, não dançava, marchava, de modo enérgico e pomposo, fazendo soar as medalhas de fancaria.
Não desistiu da ideia de conseguir que a galinha reagisse de modo diferente às diversas músicas. Não conseguiu. Voltou a tentar por diversas vezes e o resultado foi sempre o mesmo: a galinha marchava, garbosa,de peito inchado.
Fartou-se e deu a bicha.
Há dias, viu-a, ao som de marchas marciais, integrando uma manifestação que progredia a passos cadenciados e braços estendidos em saudação ao chefe.
A esperá-la estava o seu mentor, o galo vesgo e atoleimado, que ia gritando de modo repetitivo “o chefe tem sempre razão”… entre outros dislates bajuladores da autoridade ilimitada…

Jorge C. Chora
10.2.2020

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