Biri-Biri era uma porquinha rosada e rica que protegera e
enriquecera inúmeros amigos. Foi por alguns
deles convidada para um almoço.
Embora de início se tenha feito rogada, acabou por aceitar
de bom grado o convite. Apresentaram a refeição como uma espécie de homenagem,
uma forma de lhe manifestarem o apreço pelos negócios lucrativos que ela lhes
proporcionou, muitos deles, diga -se a bem da verdade, à margem da lei.
Enquanto conviviam e bebiam, os anfitriões preparavam o fogo
para confeccionarem a refeição propriamente dita. Música e dança a rodos,
ocuparam lugar de destaque no convívio. A porquinha sentia-se entre os seus. bebeu
e brindou aos amigos, a maior parte, porcos e porquinhas como ela.
Ajudou nos preparativos, tendo escolhido os trabalhos que
mais sentia adequados a si: o afiar das facas, necessárias ao corte e à
degustação. Enquanto este trabalho executava, ia piscando o olho a um peru que a
ajudava e ia pensando: coitado do desgraçado…mal sabe ele o que lhe vai
acontecer!
Com tudo a postos, o porco que com ela falava, tira-lhe das
mãos a faca mais afiada e espeta-lha no pescoço. Surgiram de imediato bacias
com que lhe aproveitaram o sangue, enquanto outros a enfiaram no grande espeto
em que a assaram na enorme lareira, onde um fogo apropriado já crepitava.
O repasto durou toda a noite e foi regado com o vinho das
regiões onde a recém-defunta lhes oferecera os melhores negócios. Grunhidos de
satisfação pelo seu oportuno desaparecimento, ouviram-se em todo o espaço,
acompanhados de suspiros de alívio, pois Biri-Biri andava a ser investigada e
ninguém queria ser com ela conotado.
Ao amanhecer, cada um dos convivas, julgando que os outros
ainda estavam de olhos semicerrados, lançou-se numa luta de apropriação das
riquezas da porquinha rosada. Os ossos sem carne, ficaram insepultos e à mercê
de abutres tão fedorentos como eles.
Jorge C. Chora
19/02/20
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