quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

A HOMENAGEM À PORQUINHA BIRI-BIRI


  
Biri-Biri era uma porquinha rosada e rica que protegera e enriquecera inúmeros amigos.  Foi por alguns deles convidada para um almoço.

Embora de início se tenha feito rogada, acabou por aceitar de bom grado o convite. Apresentaram a refeição como uma espécie de homenagem, uma forma de lhe manifestarem o apreço pelos negócios lucrativos que ela lhes proporcionou, muitos deles, diga -se a bem da verdade, à margem da lei.

Enquanto conviviam e bebiam, os anfitriões preparavam o fogo para confeccionarem a refeição propriamente dita. Música e dança a rodos, ocuparam lugar de destaque no convívio. A porquinha sentia-se entre os seus. bebeu e brindou aos amigos, a maior parte, porcos e porquinhas como ela.
Ajudou nos preparativos, tendo escolhido os trabalhos que mais sentia adequados a si: o afiar das facas, necessárias ao corte e à degustação. Enquanto este trabalho executava, ia piscando o olho a um peru que a ajudava e ia pensando: coitado do desgraçado…mal sabe ele o que lhe vai acontecer!

Com tudo a postos, o porco que com ela falava, tira-lhe das mãos a faca mais afiada e espeta-lha no pescoço. Surgiram de imediato bacias com que lhe aproveitaram o sangue, enquanto outros a enfiaram no grande espeto em que a assaram na enorme lareira, onde um fogo apropriado já crepitava.

O repasto durou toda a noite e foi regado com o vinho das regiões onde a recém-defunta lhes oferecera os melhores negócios. Grunhidos de satisfação pelo seu oportuno desaparecimento, ouviram-se em todo o espaço, acompanhados de suspiros de alívio, pois Biri-Biri andava a ser investigada e ninguém queria ser com ela conotado.

Ao amanhecer, cada um dos convivas, julgando que os outros ainda estavam de olhos semicerrados, lançou-se numa luta de apropriação das riquezas da porquinha rosada. Os ossos sem carne, ficaram insepultos e à mercê de abutres tão fedorentos como eles.

Jorge C. Chora
19/02/20

Sem comentários:

Enviar um comentário