Impôs -se pela força e pelas artimanhas. Não havia luta que
não tivesse ganho, rival que lhe fizesse frente, conhecido que não o temesse.
Nunca se sacrificou por ninguém ou deu algo a alguém. Era o sr. Ratão. Na
comunidade conquistara lugar de destaque ou melhor, era o mais importante da
rataria.
Vivia num túnel, perto da entrada por onde entravam
alimentos a qualquer hora. O melhor alimento, fosse qual fosse, já não descia à
toca. Engordou. Fartou-se de engordar. Engordou sem parar. Quanto mais gordo
estava mais despótico se tornava.
Um belo dia o sr. Ratão entrou em pânico: sentiu o cheiro a
gás da desratização muito perto.
Descobriu que, mesmo que quisesse não conseguia sair. Estava
tão gordo que mal se podia mexer e nem espaço tinha para tal.
-Socorro, venham ajudar-me… não consigo sair daqui! - gritou
angustiado, ao sentir o cheiro a gás cada vez mais perto de si.
Tanto gritou que alguns dos ratos desprezados, procuraram
puxá-lo. Não conseguiram movê-lo sequer um milímetro!
Gritou de novo por socorro, duas, três, quatro vezes…
E os ratinhos, tornaram a esforçar-se em vão. Caiam de
exaustão, embora fossem os mais fortes desta comunidade faminta, já sem forças
nem ânimo para puxar.
-Ajudem-me seus fracotes de uma figa! - exigia o Ratão
anafado e mal-agradecido.
Pouco a pouco, os pedidos de ajuda foram diminuindo, até se
deixarem de ouvir.
A morte do grande chefe abusador não foi chorada. Em
contrapartida, a morte de três ratinhos jovens e subalimentados, expostos ao
gás por ajudarem quem nunca os ajudou, foi copiosamente lamentada.
Ainda hoje se ouve o guinchar de ratos famintos que sucumbem
ao auxiliar ratões, que entopem as saídas de emergências, quando as desgraças
se abatem sobre as comunidades.
Jorge C. Chora
21/o2/20
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