sábado, 30 de maio de 2020

AS ONDAS DO MAR


Murmuram-me as ondas do mar,
a medo, um pedido,
como se fosse um segredo,
enrolando-se devagar,
a esconderem-se envergonhadas,
com o que me iam dizer:
-Amigo do mar e das ondas,
sabes quão bom é nadar,
sem porcarias encontrar.
Nunca te vimos sujar,
ao mar deitar o que não queres,
exceto daquela vez, faz dez anos.
Foi uma garrafa de plástico
da coca-cola, que ainda aí está,
mesmo ao teu lado,
depois de ter dado a volta
ao mundo e aqui regressar.
Pedi desculpa, apanhei-a
 e fui deitá-la ao sítio certo.
Ao retornar ao mar,
a onda abraçou-me,
espumou de alegria,
banhou-me o corpo,
lavou-me a alma e disse-me:
- Muito obrigada.
E à beira-mar,
um bando de gaivotas,
à volta de uma irmã morta
por ter comido plástico,
também gritou:
- Muito obrigado.
Jorge C. Chora
30/5/2020

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