Seriamos uns seis a cavalgar as ondas, montados numa grande câmara
de ar de trator. De repente, alguém lançou um grito estridente e aflito:
- Cuidado…saiam depressa…
Só não gelámos por mero acaso. Vindo do fundo do mar, surgiu
um enorme monstro cornudo, com asas, que voava e nadava, para logo de seguida voltar
a voar. E o estupor vinha ao nosso encontro, na nossa direcção, muito próximo.
Ainda hoje não acredito na velocidade com que saímos do mar.
O monstro só podia ser surdo pois se não fosse, teria sido
morto a grito, tantos foram os berros com que o mimoseámos. E ele, moita,
continuava a voar, a pousar e a nadar, com um desprezo olímpico
pelos nossos gritos de guerra acagaçados.
Um pai que tinha sido alertado, surgiu munido de artilharia
adequada e deu início a uma medonha fuzilaria.
E o monstro continuava a nadar, a voar e a afastar-se aos poucos, para
alto mar.
Tenho a impressão, embora não garanta, que no sítio onde
tínhamos saído à pressa, o mar se tinha tornado acastanhado. Talvez tal facto,
se tivesse ficado a dever, não a descargas intestinais, mas às algas que o
monstro tinha para lá deslocado. Decididamente eram algas. Nunca discutimos o acontecimento,
portanto, ele pura e simplesmente nunca existiu.
Esgotados pelas emoções, nunca nenhum de nós confessou ter
tido pesadelos com o monstro voador. Todos dormimos o sono de heróis,
esquecidos do acastanhado do mar.
O monstro era somente uma enorme jamanta, que nenhum de nós
tinha jamais visto e veio a aparecer morta, na praia do Régulo Luís.
Isto passou-se há mais de cinquenta anos, na “minha” praia
do Macúti, a três ou quatro paredões do farol, na cidade da Beira, em
Moçambique, tirando, claro, os exageros da pintura e as descargas intestinais
que, para todos os efeitos, nunca existiram.
Jorge C. Chora
20/5/2020
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