sexta-feira, 15 de maio de 2020

OS RIVAIS



Tomás e Frederico encontraram-se na rua, à porta do café. Após os cumprimentos da praxe, Tomás ficou a saber que o amigo ia ao barbeiro. Era para onde ele ia também, mas nada disse. Despediu-se cordialmente, referindo a sua pressa em tratar de um assunto inadiável, motivo pelo qual, não lhe faria companhia.
Apressou Tomás o passo enquanto Frederico, na sua habitual passada, continuou a pedir a cada perna, licença para que a outra avançasse.
Quase quinze minutos depois, Frederico chegou à barbearia. Surpreendeu-se ao ver o amigo Tomás à porta.
-O que fazes aqui?
-Olha mudei de ideias e resolvi também vir aparar o cabelo. O barbeiro é que ainda não abriu e já passam quinze minutos da hora …
-Ó Tomás, se me tivesses dito que vinhas para o mesmo sítio que eu…
- Ficaríamos ambos à porta…
-Mas teríamos a companhia um do outro… -respondeu-lhe, de modo amável, Frederico.
-Nisso tens razão…- disse Tomás, pensando com os seus botões, que desse modo não seria ele atendido primeiro.
-Pois… mas sabes…eu sabia que o barbeiro ia abrir hoje, quinze minutos depois, porque falei com ele ao telefone…
Palavras não eram ditas quando o barbeiro chegou e os cumprimentou:
-Bom dia meus senhores. Ora vamos ao trabalho. O sr. Frederico já tinha marcado…faça o favor de se sentar.
Tomás rilhou os dentes e lançou um palavrão, daqueles que só se ouvem no trânsito, mas não teve de disfarçar, porque quer Frederico, quer o barbeiro, fingiram não ter ouvido.
Como Frederico lhe ficou a conhecer a manha, Tomás decidiu procurar outro vizinho a quem pudesse ultrapassar, quando fosse ao corta-poupas.
Quem procura acha e ele escolheu o António, quando o ouviu dizer que no dia seguinte, se iria encontrar com o barbeiro, muito antes da hora de abrir.
Às seis da manhã, Tomás já estava à porta da barbearia, marcando a sua vez. Esperou até às dez, altura em que alguém lhe disse:
-Ele foi à aldeia com o António, são os dois da mesma terra…
Se por acaso conhece o Tomás ou alguém como ele, nunca lhe diga onde vai…

  Jorge C. Chora
     15/5/2020

Sem comentários:

Enviar um comentário