terça-feira, 8 de junho de 2021

A BOINA DO TUBARÃO

 

A BOINA DO TUBARÃO



Andava o mundo preocupado ou melhor, preocupadíssimo, com o Filipe. Tudo ou quase tudo o que dizia, tinha o selo de falso, garantidamente. Os colegas, os amigos ou simples conhecidos, mal ele abria a boca, esperavam uma grande mentira ou pelo menos, uma inverdade.

À mesa do café , após o fim do dia de trabalho, reuniram-se os colegas, para bebericarem umas cervejas e conversarem um pouco.

Eis senão quando, ao longe, se aperceberam que o Filipe se dirigia para o local onde se encontravam

- Qual será a galga que nos vai enfiar hoje?

-Sabemos lá...para variar é capaz de não dizer nenhuma… - avançou um bem intencionado.

- Bom...vamos apostar… - propôs um deles.

E apostaram. A aposta não se efetuou, pois todos se inclinaram a favor da mentira que o Filipe não deixaria de dizer.

Após os cumprimentos da praxe, Filipe deixou escapar :

- Estou nervoso. O que vi deixou-me assim. Primeiro, julguei estar a sonhar. Depois verifiquei que não. Tinha mesmo visto o que vira…

- Não estejas a empatar homem. Afinal o que viste?

-Quando passei à beira mar,vi um tubarão com uma boina…

Nem chegou a acabar a frase. A risada foi geral.

- E de que cor era a boina…

- Era preta e vermelha, com um pompom…

E um idoso de bengala, de ar distinto, que por ali passara e assistira à cena, interveio e disse:

- Olhem , não é verdade…

-Escusa de dizer, pois aqui todos sabemos … um tubarão de boina! - exclamaram os amigos.

-Não é isso … -cortou o idoso, acrescentando – Não era bem isso. A boina, era uma boina basca!

Os presentes franziram o sobrolho. Como assim, pensaram. Uma boina basca?

Sem saberem que dizer, calaram-se. Não querem lá ver que o barreteiro tinha razão!

Enquanto o idoso se afastava, cruzou-se com o Manuel, um recém-chegado que o cumprimentou e veio para ao pé dos amigos.

Ao chegar junto ao grupo perguntou:

- Então malta, o que fazia aqui o pai do Filipe?

- Pai do Filipe? O idoso que aqui estava?

-Sim claro Quem querias que fosse?

Entreolharam-se, trocaram olhares e de modo ajuizado decidiram, nada mais dizer, nem perguntar! Tal pai tal filho! Ora abóboras!

JORGE C. CHORA

8/06/2021

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