quarta-feira, 16 de junho de 2021

O MENINO DO PÓPÓ



Alberto tinha pouca ou nenhuma paciência para andar de roda do seu carro. Preocupava-se com os órgãos essenciais para uma condução segura e ficava-se por aí.

No fim do dia de trabalho, a sua colega Dina pediu-lhe boleia por ter a sua viatura na oficina.

Ao chegarem ao automóvel de Alberto, ela franziu a testa, mas absteve-se de comentários. Se Dina não soubesse de que cor era o carro, só poderia adivinhar qual era, tal a sujidade. O interior também não primava pela limpeza mas era melhor do que a do exterior.


Em conversa amena até chegarem ao destino, Dina não conseguiu conter-se à despedida, sem lhe lançar umas farpas:


- Olha Alberto, não leves a mal a pergunta que te vou fazer…

- Pergunta à vontade…

- O teu carro lava-se sozinho?

- Que eu saiba não… - respondeu-lhe Alberto, dando uma gargalhada.


Combinaram tomar café após o jantar, num local diferente do habitual. À hora marcada, Alberto parou em frente à esplanada repleta de gente. A sua viatura resplandecia. Ainda havia sol e a luz refletia-se na cor cinzenta metalizada. Saiu da viatura e ficou a mirá-la. Nunca a vira tão limpa, valera a pena mandá-la lavar e limpar.


Na primeira mesa da esplanada, duas senhoras, ainda jovens, comentaram de um modo maldoso e um tanto ou quanto altivo:


- Este vive para o pópó! Vê-se à légua que é a única preocupação… olha a vaidade …está a namorá-lo...


Alberto sorriu e apressou-se a contar a Dina o que ouvira. Esta lançou uma gargalhada tão forte e tão sincera que as pessoas ao seu redor se voltaram para verem o que se passava.


No dia seguinte, pela hora do almoço, o carro de Alberto voltou a ser o que era: as gaivotas, atraídas pelos reflexos, encheram-lhe a capota e o tejadilho de cocó !


Jorge C. Chora


16/06/2021







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