quinta-feira, 3 de junho de 2021

O DESCARADO FEDORENTO

Um homem de meia idade, refastelado à mesa do café, ia-se descuidando sem qualquer cerimónia. À medida que se descuidava, dizia,com alívio e em alta voz: fora com quem não paga a renda.

Numa mesa a seu lado,uma senhora ainda jovem, de aparência cuidada, sofria em silêncio o mau cheiro e os sons desagradáveis, sem dizer ai nem ui.

Quando o senhor ia beber um galão a fumegar , a senhora não foi de modas: descuidou-se de uma forma estrondosa,de tal forma violenta que o homem se assustou e entornou o líquido a ferver

na sua camisa e nas calças, lançando um grito de dor.

A senhora,fingindo-se surpreendida, disse-lhe com um ar ingénuo e em tom infantil:

-Resolvi expulsar também o intruso que não pagava a renda...

E o senhor, já recuperado do escaldão, todo sujo mas risonho, respondeu-lhe:

-E fez muitíssimo bem, se todos agissem como nós, não haveria senhorios infelizes nem inquilinos abusadores. Fora com quem não paga a renda!

E a jovem, descuidando-se de novo de forma ruidosa,corroborou a afirmação:

- Fora com quem não paga a renda! - e afastou-se.

Ao afastar-se, olhou pelo canto do olho ainda a tempo de ver o homem a abanar-se, em desespero, tentando livrar-se do fedor que ela lhe legara.


Jorge C. Chora

3/06/2021


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