O café estava localizado a um passo da igreja. Abrira recentemente e pretendia homenagear a Virgem Santa, da qual o proprietário era devoto. Podia ter-lhe dado o nome de “CHEIA DE GRAÇA”, mas achou que era mais fino intitulá-lo, em latim, de “GRATIA PLENA” e assim ficou.
Cada cliente
que de lá saía, vinha cabisbaixo e a murmurar algo impercetível.
O vendedor
ambulante, cujo poiso de vendas ficava quase à porta do estabelecimento, andava
intrigado: não conseguia decifrar, por mais que se esforçasse, o que eles
diziam.
Um dia
encheu-se de coragem e quando um homem, ainda jovem, de lá saía e murmurava
misteriosamente algo, lhe perguntou:
-Peço-lhe
imensa desculpa, mas estou curioso… - e explicou-lhe que todos os que de lá
saíam, murmuravam palavras ou frases misteriosas- Afinal o que significam? O
que se passa?
E o senhor
mostrou-lhe a fatura que tinha pagado por um café e um bolo…
-O vendedor
arregalou os olhos e sem querer soltou, bem alto, um palavrão que se ouviu na
esquina.
-Pois é meu
amigo, eu sou mais contido e roguei à Virgem que rogasse por mim!
E vinha a
sair nesse momento um senhor idoso, usando um colarinho clerical, que de mãos
na cabeça dizia:
“…ora pro
nobis peccatoribus nunc et in hora mortis nostrae, Amen”
E o jovem,
sorrindo, informou o vendedor:
- O senhor
padre deve ter recebido a conta do almoço e traduziu a frase, recordando-se dos
seus tempos de seminarista:
“… Rogai por
nós pecadores, agora e na hora da nossa morte, ámen”
E o vendedor
ambulante, a partir daí, ao ver o padecimento dos clientes,
mostrava a
sua solidariedade, dizendo, convicto, após os seus murmúrios: ámen.
Jorge C.
Chora
5/12/2021
Sem comentários:
Enviar um comentário