quarta-feira, 20 de abril de 2022

DE RABO AO LÉU


Já vestida, calçada e arranjada para sair, tocou o telefone e deu-lhe uma dor de barriga.

Joana atendeu o telefonema e ficou em pânico. A sua amiga Marta tinha a sua filha sem respirar e vinha pedir-lhe algum dinheiro, para a poder transportar para a clínica privada onde ela era seguida.

Joana saiu correr, a pé, pois tinha o carro na oficina. Correu quanto pode, com o telemóvel a tentar chamar um táxi, mas no meio de uma praceta teve de parar. Ou encontrava uma casa de banho ou acontecia-lhe uma desgraça. Olhou em redor e não viu nem cafés nem lojas nenhumas que pudessem ajudá-la.

Baixou-se, tirou as cuecas e foi ali mesmo que foi obrigada a aliviar-se.

Em menos de nada, surgiram de todos os cantos, mulheres gritando em uníssono:

-Sua porca! Vai para a tua rua badalhoca…

De uma porta, apareceu uma mulher com uma faca na mão, correndo na sua direção, secundada por um homem, sem camisa, soltando imprecauções de fazer corar um carroceiro.

E foi quando uma enorme rabanada de vento, perante o espanto dos seus carrascos, a elevou ao céu suavemente e a transportou, ninguém sabe para onde.

-  Oh! O que foi isto!

E enquanto o seu espanto se aprofundava, do céu caiu uma tempestade de matérias fedorentas, não provenientes da Joana, embora ela continuasse de rabo ao léu.

O vento deixou Joana, de modo suave, à porta do hospital, ainda antes da sua amiga Marta e a filha chegarem.

Curioso é o facto de que nenhum dos algozes se tivesse livrado do cheiro fedorento, independentemente dos banhos tomados. Ainda hoje ninguém a eles se chega, sem tapar o nariz.

Jorge C. Chora

20/04/2022

Sem comentários:

Enviar um comentário