segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

UM JOVEM AMANTE DA BOA-VAI-ELA

 


Em tardes de boa-vai-ela

e noites de piela,

urinava nas ruas

e aliviava-se nas vielas.

Esquecia-se de trabalhar

e o dinheiro a faltar:

começou a roubar.

Tantas fez que foi apanhado

e não tardou a ser enjaulado.

Jovem e bonito como era,

chamaram-lhe um figo na cadeia,

e logo lhe trataram do pandeiro.

Primeiro estranhou e depois entranhou-se,

tal e qual como a Coca-Cola

e o dizer de Pessoa.

Para sustentar a antiga vida,

circulava por Lisboa

e vendia-se a quem o queria.

Foi espancado, abusado e roubado

e depressa adoeceu, foi internado e morreu.

Ninguém o visitou no hospital

e ao seu funeral ninguém compareceu:

nem os companheiros da boa-vai-ela,

muito menos os clientes do pandeiro

e acabou enterrado como indigente,

o amigo das tardes da boa-vai-ela

e das noites de piela.

            Jorge C. Chora

             18/12/2023

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