sexta-feira, 30 de agosto de 2024

CRIMES DE GUERRA

 


Aceitar o inaceitável

é inacreditável,

mas acontece diariamente,

perante o olhar de todo o mundo.

Desde quando se tolera

a existência de crimes de guerra,

ainda por cima filmados em direto

e impossíveis de ser negados

pelos próprios envolvidos,

de que eles foram cometidos?

Há alguma dúvida de que quem

os ordenou e quem os executou,

devam ser sancionados?

É admissível que as penas

do Tribunal Penal Internacional

não sejam cumpridas?

Basta que o Conselho de Segurança da ONU

as resolva democraticamente, sem admitir

o direito de veto de nenhum país a sobrepor-se

à maioria, garantindo assim a sua execução,

mesmo que seja contra um dos membros permanentes.

Utopia? Claro que sim, infelizmente!

Jorge C. Chora

30/8/2024

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

AS MÃES SÃO SERES DIVINOS

 


Em cada mãe há um amor sem recuo,

desde os primeiros pontapés sentidos no ventre,

às conversas e murmúrios tidos com os filhos,

ainda no interior dos seus corpos.

São parte de si e nunca deixarão de o ser,

mesmo quando criam asas

e em devido tempo se libertam,

as mães vivem em sobressalto,

embora não o possam exteriorizar

em benefício da sua independência:

- Aí Jesus, Deus proteja o meu menino

que está longe de mim.

As mães são assim: seres divinos que

habitam a terra e nunca por nunca,

deixam de pensar ou fazer o que podem pelos seus filhos!

Jorge C. Chora

29/8/2024

 

terça-feira, 27 de agosto de 2024

O URSO BORDADO

 

Quem se importava,

de ser um urso bordado

 na tua calcinha,

 junto a ti aconchegado,

sempre esfregado e quentinho,

em colchão peludo almofadado.

Que inveja tenho,

de não poder ser eu,

em carne e osso,

o ursinho acoplado à tua calcinha!

Jorge C. Chora

27/8/2024

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

A MULHER SALTARICA

 


Ó mulher saltarica,

cuidado com os saltos,

ainda a te salta a carica,

não queiras ficar sem tampa,

sai-te o gás se a destapas.

 

Ó mulher saltarica,

se ficas sem carica,

a bebida que trazes contigo,

perde o gás e sem graça fica.

 

Ó mulher saltarica,

não percas a carica,

se a bebida destapas,

sai-lhe o gás e é uma desgraça!

      Jorge C. Chora

         26/8/2024

domingo, 25 de agosto de 2024

FINGIR

 

Quando nada sentes

 e finges sentir,

todos sentem o teu iludir,

tão falso é o que sentes,

que nem consegues mentir.

      Jorge C. Chora

        25/8/2024

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

A BARBUDA

 


Emília “Barbuda” era hortelã, mas quando necessário era tudo mais alguma coisa: pedreira, cozinheira, barbeira e pescadora.

Barbuda não era apelido, mas alcunha, pois, se havia gente barbuda ela era uma delas. Era-o exterior e interiormente. O púbis era tão farfalhudo que ela tinha de o enrolar como se fosse a barba de um chinês. O marido sempre que a queria amar dizia-lhe: mostra-me o chinês -e ela apressava-se a puxar a barbicha para cima ou para o lado para não perturbar a ação.

Um dia o marido adoeceu e fazia falta um elemento no barco de pesca em que ele trabalhava como pescador.

Emília estava habituada às lides da pesca. O seu pai já era pescador, os seus irmãos e o marido também.

Colocou o seu barrete de dois cornichos e alá que se faz tarde.

Estava-se a meio do século XVII e a vida na Ericeira era dura ou melhor dizendo, muito dura para a família de Emília Barbuda. Tinham de aproveitar tudo ou ainda acabavam por ter de suplicar à Santa Casa da Misericórdia algum dote para poderem sobreviver.

Embarcou Emília “Barbuda” bem cedo, em manhã de nevoeiro, com rumo ao mar de Cascais onde lhes tinham dito, no dia anterior, que havia peixe abundante.

Quase a chegarem ao seu destino de pesca, surgiu-lhes um barco de piratas mouros, mouros de Argel, assim designados porque levavam para aquelas paragens os cativos para os venderem.

A “Barbuda” estava à proa e assim que os viu, lançou um berro aterrador, semelhante a um ronco de vulcão, levantando os braços e agitando um facalhão com que esventrava o peixe que cozinhava a bordo, subindo as saias e mostrando a grande barba de chinês e na cabeça os cornichos que no meio da neblina pareciam fumegar.

Por instinto e puro medo, a mourama, à cautela desviou o barco e passou ao largo com os pescadores a insultarem-nos forte e feio, seguindo o exemplo da “Barbuda”, como se estivessem com vontade de os comer vivos.

Antes que os mouros decidissem voltar, os ericeirenses puseram-se ao fresco, parecendo voar em vez de navegar.

Eram assim as mulheres dos jagozes e só não fizeram uma estátua à” Barbuda” porque não sabiam como apresentar a barba do chinês.

Jorge C. Chora

23/8/2024

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

TSUNAMI

 


Em tempos de violência,

temo ter sofrido,

uma tortura inaudita,

de noite e de dia

e ter gostado!

Ou me mata ela

ou a mato eu,

ou nos matamos ambos,

tremendo de consentido prazer,

afogados numa onda de mútuos orgasmos.

É tão bom morrer de amor,

ressuscitar com vontade

de tornar a morrer num tsunami de prazer!

Jorge C. Chora

22/8/2024

domingo, 18 de agosto de 2024

DESCULPAS

 

Não fizeste

nem farás,

pois por mim

feito está,

o que não quiseste

sequer fazer,

para poderes dizer,

não ter feito

o que por mim

feito estava,

sem teres de fazer nada.

Jorge Chora

18/8/2024

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

É ASSIM?

 


A um homem bom,

tudo pode acontecer,

pois os problemas dos outros

passam também a ser seus.

Isso não sucede a quem

de bom nada tem,

e dos outros tudo quer,

mas nada lhes dá,

sendo a solidariedade uma coisa estranha,

típica dos pobres ou ingénuos.

Jorge C. Chora

15/8/2024

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

O TEMPO DO FANATISMO

 



Vivemos tempos conturbados,

provocados por perturbados

fanáticos religiosos e políticos,

adeptos da intolerância,

inimigos da diversidade,

estribados e autojustificados

por visões messiânicas

e livros “sagrados”, interpretados

à letra e seguidos a par e passo

como guiões intocáveis.

A vida não tem qualquer valor,

massacram-se velhos, mulheres e crianças,

roubam-se terras, destroem-se países,

à vista de todo o mundo.

A verdade é instrumentalizada,

utiliza-se a desinformação

em benefício de alguns

e tudo isto quando meio mundo

morre de fome e de doenças curáveis.

E o mundo auto destrói-se em tempos

de glorificação do fanatismo e da intolerância,

do desprezo pela ciência em favor da Humanidade.

Tristes são os tempos em que vivemos!

Impõe-se a defesa dos princípios democráticos,

do regresso aos valores humanos,

desde o respeito pela diferença,

ao direito à paz e à vida!

           Jorge C. Chora

              14/8/2024


domingo, 11 de agosto de 2024

INACREDITÁVEL

 


Ninguém acredita

na violência maldita

e na deslavada mentira,

por todo o mundo vista,

que o assassínio diário de centenas

de mulheres e crianças,

se destina só a matar combatentes.

Vê-se, à vista desarmada, ser intenção pura

de concentrar civis para os exterminar,

quando dizem procurar a paz,

aproveitando para ceifar os mediadores

e continuar a matar gente às pazadas!

Para quando o fim das chacinas?

Jorge C. Chora

11/8/2024

 

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

QUEM É O CULPADO?

 

              Quando se finge saber,

           e não se sabe

           reconhecer sequer,

           a necessidade de aprender,

 o que fazer?

O que muitos fazem:

culpar quem sabe,

de nada saber!

Jorge C. Chora

  9/8/2024

           

 

O REGRESSO DO PÁSSARO

 


Ainda o sol não nascera e já o homem estava de pé, vestido e pronto para ir para o serviço. Ao fim de semana, o que mais desejava era dormir até tarde.

O pior é que o seu desejo era pura e simplesmente irrealizável. Logo que o sol nascia, o papagaio do vizinho desatava a palrar e a assobiar tão alto que o impedia de dormir. Mil vezes injuriou o maldito papagaio.

De tanto pensar em calar o pássaro, começou a ter pensamentos assassinos. Da sua janela tinha um ângulo capaz de o liquidar. Seria um descanso definitivo. O passaroco entregaria a alma ao criador ainda jovem e ficaria ao lado do deus da passarada. Era até um fim glorioso, ainda que imerecido para tão irritante ave.

Acabou por cair em si. Ele não era um matador e coitado do desgraçado, ser morto por ser barulhento era pouco digno.

Naquele fim de semana, ferrado no sono, foi acordado por uma chinfrineira medonha pelo danado do papagaio. Levantou-se furioso, vestiu o roupão e desceu as escadas a todo a vapor, qual chaleira a ferver.

Foi ter com o vizinho e perguntou-lhe quanto queria pelo papagaio.

-Eu não o vendo. É um amigo.

-Pago-lhe qualquer preço!

Vendo a oportunidade do negócio, cobrou-lhe uma fortuna por ele.

Feliz com a aquisição, meteu-se no carro em direção à serra de Monsanto e aí chegado, abriu a gaiola e despediu-se do bicho:

-Estás livre. Vai para onde quiseres. Arranja uma namorada que seja surda e abala com ela!

No regresso a casa suspirou de alívio com o pensamento de poder, a partir daí, dormir o sono dos justos ao fim de semana.

Passou toda a semana ansioso pela chegada do fim de semana. Agora ia poder dormir à vontade.

Qual não foi o seu espanto, logo seguido por uma imensa raiva, ao acordar com uma barulheira infernal. Apurou o ouvido e percebeu que se tratava de um pássaro.

- Ora querem lá ver que o estupor do bicho voltou para casa! E paguei eu uma fortuna e ele faz-me esta desfeita?

Levantou-se e desceu a escada, de quatro em quatro degraus, como se fosse um canguru aos saltos.

Bateu à porta do vizinho e quando ele a abriu não se conteve:

- O estupor do animal voltou para casa?

- Não meu amigo. Com o dinheiro que me deu, comprei dois papagaios e ainda comida para quase um ano!

Desta vez o homem não ofereceu dinheiro. Foi à farmácia e comprou dois tampões para os ouvidos.

-Por que não me lembrei antes disto!

 

Jorge C. Chora

     8/8/2024

terça-feira, 6 de agosto de 2024

UM SIMPLES ZÉ-NINGUÉM

 

Não percas alguém,

por dizerem ser um zé-ninguém.

Há quem saiba do seu bom -humor,

da sua capacidade de rir até às lágrimas,

de dar sinceras e sonoras gargalhadas,

ser um pouco trapalhão e amigo do seu amigo.

Ganha pouco, é certo, mas vale muito,

 para ti e para quem o deseja.

Não gostas de o veres espreitar

debaixo das tuas saias, mordiscar-te as nádegas

e perguntar-te amiúde e com ar malandro,

pelo tesouro escondido, que ele conhece de ginjeira,

a forma e o sabor?

Cuidado com quem finge desdenhá-lo,

e o chama de zé-ninguém,

sabendo que ele é bem mais do que

um simples zé-ninguém ou de alguém

forrado de notas e mau-humor.

 

              Jorge C. Chora

                 6/8/2024

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

A TEIMOSIA DO INVERNO

 


 O inverno tem a mania,

de à Ericeira vir,

fazer férias de verão

e não desiste de aparecer em agosto.

É assíduo e persistente

e não há quem o demova

de cá estar, pois como ele diz:

-Para onde hei- de ir,

se até casa de verão aqui tenho?

 Já lhe bati à porta, para o convencer

a sair só depois da meia-noite,

e a deixar-se ficar em casa de dia,

- Sair de noite, nem pensar, tenho frio

e não me apetece, de dia quero apanhar sol.

É teimoso este companheiro de verão,

que nos acompanha quer de noite quer de dia

e prefere agosto, para aqui vir passar as férias,

e se está nas tintas para quem não deseja,

ter inverno em pleno verão.

 

            Jorge C. Chora

                 5/8/2024

 

sábado, 3 de agosto de 2024

DEOLINDA

 

Nasceu no Largo das Ribas,

nunca dali saiu,

está lá todos os dias,

e já tudo viu.

Aproveita os ventos para no ar

ficar a pairar e do céu vigiar,

quer a terra quer o mar,

e sempre de olho estar,

no peixe que lhe convém

ou naquele que nos barcos vem.

Corre na praia a afugentar

quem asas tem,

não quer partilhar

a iguaria com ninguém,

exceto com o parceiro que é alguém.

É assim a gaivota Deolinda,

a que nasceu no Largo das Ribas

e nunca dali saiu.

Jorge C. Chora

    2/8/2024