domingo, 29 de setembro de 2024

TRISTEZAS ESQUECIDAS DE QUE NÃO SE FALA.

 

TRISTEZAS ESQUECIDAS

               DE QUE

          NÃO SE FALA

 

Vidas sempre a poupar,

sem saídas para jantar,

nem para ir fora almoçar.

Fazer férias longe de casa,

nem pensar!

Caparica ou Carcavelos,

já era gozar.

Ir ao McDonald’s era festejar.

A ordem era poupar,

até uma entrada conseguir,

para ao banco poder ir,

e um empréstimo pedir,

para com uma segunda casinha sonhar

e mesmo assim hipotecar,

a outra onde estavam a habitar.

Ter sítio onde ter férias com a família,

fins de semana e um local para se retirar,

quando se conseguissem reformar

e ter algo para aos herdeiros legar.

De repente, por matos não tratados,

galga um fogo por pirómanos ateado

e o sonho reduz-se a cinzas:

vai-se a casa, as férias,

o legado dos herdeiros,

o retiro da reforma,

e ainda fica a dívida do empréstimo.

E o pior é o pensamento

que atribui aos ricos, a posse

de segundas habitações,

e a facilidade de as reconstruirem

enquanto o diabo esfrega um olho!

 

PS. Claro que as primeiras habitações, os terrenos agrícolas, as alfaias e a fábricas, terão de ter prioridade. Mas, quanto às segundas habitações, os bancos e os seguros, devem ser pelo Estado vigiados e acompanhados, para que não se agrave a desgraça dos proprietários das perdas das segundas habitações e uma vida de trabalho e sacrifícios não se evaporem.

 

Jorge C. Chora

29/9/2024

 

sábado, 28 de setembro de 2024

A GALINHA DA SABRINA

 


Labuta noite e dia,

mas queria uma galinha

a nossa amiga Sabrina.

Conseguiu uma, limpinha,

que não come nem pia

e lhe serve de companhia.

Daniel cuida dela,

põe-lhe os ovos,

limpa-lhe o pó

e tem-na num brinquinho,

sem sequer sujar o paletó.

A galinha da Sabrina,

 é de toda a confiança

ou não fosse ela de faiança!

Jorge C. Chora

27/9/2024

 

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

PARA A SANDRA BULLOK

 

A vida é demasiado curta.

Há quem a queira encurtar ainda mais,

num mundo perigoso como o d’hoje,

privando-nos de ver e apreciar,

uma artista versátil e talentosa,

como a bela Sandra Bullok!

Viver é vê-la, ler Gabriel Garcia Márquez,

Hemingway ou Saramago,

ouvir Carminho, Ana Moura, Mariza,

ou Rod Stewart,

escutar Vivaldi ou as Czardas de Monti!

      Jorge C. Chora

      25/09/2024

 

 

terça-feira, 24 de setembro de 2024

MESMO COM O CÉU NUBLADO


 Há momentos em que as nuvens eclipsam,

quer o sol quer a lua, mas estes astros,

dirão sempre:

-Não desanimem, não fomos embora!

          Jorge C. Chora

              24/9/2024

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

ÀS MULHERES VOLUMOSAS

 

Às MULHE

Às mulheres volumosas,

dizem as más-línguas,

não caberem num mundo

tão pequeno e povoado.

Botero fixou a sua sensualidade

e exuberância, colhendo

o seu bom-humor no volume

e não se enganou:

Mulheres arredondadas,

são simpáticas, comunicativas,

amigas, faladoras e cativantes;

mostram-se, não se escondem

e só as que têm complexos,

se tornam de facto, feias e gordas

e perdem qualquer réstia de sensualidade!

Jorge C. Chora

23/9/2024

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

O BEIJO É...


Pecado para os antiquados,

se não for sacramentado;

transmissão de doenças para o rejeitado;

marca de Judas para o traído;

acesso à alma e aos segredos

de quem beija e é beijado;

preliminar do amor para quem ama e é amado;

milagre da transubstanciação da saliva em água mel.

Jorge C. Chora

20/9/2024

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

A MARCA DA SAUDADE

 

A saudade é bicho que morde

e na alma deixa marcas

que só o próprio sente.

 

Jorge C. Chora

19/9/2024

À MODA DE ANTÓNIO ALEIXO

 


Onde predominam mentecaptos,

estranham-se os que não são,

sendo estes acusados,

de serem o que eles próprios são.

        Jorge C. Chora

         19/9/2024

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

A MULHER PERFEITA


 Não há quem tenha visto

uma mulher tão perfeita,

tão bela e escorreita,

e sem problema, admito.

Nem a divinal primavera

e o imbatível luar de agosto,

pertencem à mesma esfera,

isto para não falar do aroma

de lúcia-lima e alecrim,

emanados de um celestial jardim.

Agora que estou acordado,

onde vou encontrar uma igual?

Jorge C. Chora

         18/9/2024

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

A EXTINÇÃO DO DRAGÕES-DE- COMODO

 

Um famoso ditador russo foi passar férias à Indonésia. Ainda sobrevoava as ilhas onde existiam dragões-de-comodo, quando metade dos ditos répteis sucumbiu.

Uns meses mais tarde, outro afamado ditador, israelita neste caso, decidiu lá passar férias, sobrevoando as mesmas ilhas e aconteceu o mesmo aos dragões-de-comodo: a metade que sobejava, faleceu.

Consultados os cientistas sobre o estranho fenómeno, após aturadas investigações, chegaram a uma conclusão unânime:

Os dragões não aguentaram a simples presença de seres com cem mil vezes mais peçonha do que eles!

Só sobreviveu uma fêmea, no zoológico, que ao ouvir falar num certo americano, abortou os vinte ovos que estava prestes a ter.

Jorge C. Chora

16/9/2024

 

 

domingo, 15 de setembro de 2024

LOURAS OPU TRIGUEIRAS?


Às louras, ninguém resiste,

todos as querem à sua beira,

principalmente,

se acompanhadas de belas trigueiras.

Louras ou trigueiras,

não há quem não as queira,

exceto quem as não tem,

porque elas não os quiseram.

Jorge C. Chora

15/9/2024 

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

A MINHA SEDE

 

Nos teus lábios,

pousei os olhos,

e com sede fiquei.

Agora já sei,

quando sede

não quiser ter,

onde meus olhos

pousar não deverei.

 

    Jorge C. Chora

      13/9/2024

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

A OBSESSÃO DE QUIM


Quim gostava de Eva,

mulher bonita e bem casada,

com um homem que amava,

o seu querido Gustavo.

Ao saber do interesse de Quim

pela sua amada, Gustavo foi

 a uma feiticeira, e pediu-lhe

para esta lhe dar um fim.

Gustavo, ao saber do caso,

embora não desse crédito a bruxarias,

não deixou o assunto ao acaso.

Foi a outra ainda mais famosa,

e contratou-a para o feitiço anular

e para com a Eva poder ficar.

Foi ungido, com fumos e rezas,

da cabeça aos pés e foi-lhe garantido

que o seu problema ficava resolvido.

- Vai em paz, pois tens o teu problema

 solucionado.

Gustavo deu pulos de alegria, puxou da carteira

e deu-lhe um grande monte de notas.

Ainda festejava quando sentiu uma grande dor

no baixo-ventre.

Afastou as calças e espreitou: tinha os testículos

do tamanho dos ovos do beija-flor

e o pénis do tamanho do musaranho!

- Maldita bruxa que me tramou!

E só depois é que soube que a bruxa,

era a irmão do Gustavo.

Jorge C. Chora

12/9/2024 

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

O RELÓGIO

 




                                                          Figura adaptada por

                                                          Caetana Correia Chora de 8 anos




Ninguém passa sem ele,

mas há quem o deteste,

lhe rogue pragas

e o culpe dos desaires

do dia a dia

e de ser o causador do seu mal-estar.

Ele escraviza-a, relembra-lhe

o que ela quer esquecer.

Recusa andar com ele,

humilha-o tanto quanto lhe apetece,

não o leva a lugar nenhum,

diz mal dele sempre que pode

e nem o olha com olhos de ver.

É um maldito que nunca está satisfeito,

umas vezes porque é tarde, outras

porque é cedo,

 e é bem pior do que um grilo falante,

porque este é mudo, mas repreende-a

sem sequer se dar ao trabalho de falar.

Em suma, é um estupor da pior espécie,

pois tudo lhe diz, dispensando-se de falar

e sem sequer se alterar uma única vez na vida!

Jura a pés juntos, logo que se aposentar,

fechá-lo a sete chaves numa gaveta

e substituí-lo por um de parede,

 prometendo a si mesmo nunca lhe dar corda,

e vingar-se a valer,

das torturas que ele lhe infligiu toda a vida.

Jorge C. Chora

9/9/2024

sábado, 7 de setembro de 2024

ENTRAR E SAIR

 

ENTRAR E SAIR

Tudo depende do entrar e sair,

até aquilo em que estão a pensar!

sem mercadorias a entrar e a sair,

não havia trocas, nem lucros a usufruir.

 

Tudo depende do entrar e sair

sem isso não havia imigração nem emigração,

nem movimentos da população,

parava não só a construção, mas também a restauração.

 

Tudo depende do entrar e sair,

sem saída e entrada de dinheiro,

não havia mercado de capitais

e muito menos paraísos fiscais.

 

Tudo depende do entrar e sair,

até a felicidade dos casais,

sem eles não havia o entra e sai

e os prazerosos ais do quero mais.

 

Jorge C. Chora

7/9/2024

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Ó ANJO DA GUARDA


“Anjo da Guarda,

minha companhia,

guarda a minha alma,

de noite e dia”.

Onde andas ó Anjo?

aparece e acompanha-nos,

afasta de nós os malfeitores

e facínoras da humanidade

e “guarda-nos de noite e de dia”.

Não deixes o Mundo à mercê

de facínoras e discípulos de Satã,

que matam quer de noite

 quer à luz do dia

e nos tratam como amiguinhos,

para nos seus braços adormecermos

e não mais acordarmos.

Jorge C. Chora

6/9/2024

A ESTÁTUA

 


A loja era a atração da localidade. Eram raras as mulheres que não a visitavam amiúde ou pelo menos não iam lá algumas vezes por ano.

Escusado será dizer que às recém-chegadas, a primeira visita que as amigas locais as levavam a fazer, era à loja.

A loja vendia bijuterias e a verdadeira atração encontrava-se a uns dez metros, no seu interior: era a estátua, em madeira. de um índio nu, com um apêndice masculino apreciável.

Elas entravam e disfarçadamente, roçavam-se no membro. Outras passavam-lhe a mão, acariciando-o. As mais tímidas olhavam-no de soslaio, fingindo interesse nos objetos lá vendidos, andando de um lado para outro, à medida que o observavam.

Também alguns homens gostavam de lhe tocar, fazendo-o com as mãos atrás das costas para melhor disfarçarem o gesto.

As senhoras mais velhas deixavam cair um lenço ou o porta-moedas e fingindo apanhar o que tinham deixado cair, ao baixarem-se, davam-lhe um beijo repenicado.

Num dia de movimento e barulho anormalmente alto, ao fim da tarde,os donos do espaço comercial notaram, atónitos, que o índio deixara de ter pénis. Tinham-no cortado.

A clientela deixou de vir. Passavam-se dias em que nenhuma cliente aparecia.

A proprietária sossegou o marido.

- Deixa estar que elas voltarão em breve.

- Como, se ele está com a coisa decepada?

Nesse mesmo dia ela foi ter com um antigo namorado e contou-lhe o que se passava.

-E o que é que tu queres que eu faça?

-Mau. Estás a fazer-te desentendido. Quer que tu lhe faças um e o coloques no índio. Tu não costumas fazes esculturas em madeira? Ah! um pormenor: o teu é muito mais bonito do que o dele, mas não te esqueças de o fazer mais moreno!

Ao fim de dois dias a obra estava completa e implantada no índio, mas com duas diferenças: era um nadinha menor e circuncidado.

A clientela retornou em força, mas desta vez havia mais gente a deixar cair objetos no chão e a beijar disfarçadamente a ponta do dito.

Num golpe comercial bem engendrado, a proprietária encomendou ao antigo namorado, várias pequenas estatuetas de índios com os membros circuncidados e vendeu-os num ápice.

Jorge C. Chora

6/9/2024

terça-feira, 3 de setembro de 2024

SENTIR

 


Não há dor como a sua,

embora nunca a tenha sentido,

jura tê-la tido.

Desdiz o poeta

que “finge sentir

a dor que deveras sente”

e não admite que alguém sinta

uma dor tão grande

como aquela que nunca sentiu.

Jorge C. Chora

3/9/2024

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

FADOS

 


São versos cantados,

recolhidos por clientes,

também por devotos

e por quem ali anda,

nas vielas de Alfama,

 Alcântara e Mouraria,

e um pouco pelo país.

São espalhados pelo vento

nas suas correrias pelo mundo fora

e pelos bicos das gaivotas,

ao cirandarem por aqui e por acolá,

bichanando os fados de que mais gostam.

 

      Jorge C. Chora

          2/9/2024

domingo, 1 de setembro de 2024

AÍ JESUS!


Soube de uma casa em Lisboa

e decidiu alugá-la, fosse má ou fosse boa,

ainda mesmo sem sequer a ver.

Precisava dela para se poder casar.

Deu vinte mil por conta, e comprometeu-se

 a pagar dois mil e quinhentos euros,

 mensalmente, até ao dia oito de cada mês.

Assinou o contrato e foi até lá.

Temeu pela vida ao subir as escadas,

tão podre elas estavam, tresandavam a mofo

e a fritos entranhados, de sardinhas e carapaus.

A casa não tinha cozinha nem casa de banho.

Cozinhava-se num canto e o wc era numa espécie de varanda,

num cubículo com uma pia para evacuar de cócoras, e chuveiro

por cima da dita pia, tendo ao lado uma torneira,

destinada a lavar os dentes e o rabo também.

Perante a surpresa demonstrada pelo futuro inquilino,

consolou-o o vendedor avençado:

- Não se preocupe, com o dinheiro que lhe vai sobrar, depois

da renda pagar, pouco terápara para comer,

e quem não come, pouco tem para evacuar!

Quanto aos banhos, querido inquilino, ninguém vai notar.

tome ou não tome, vai sempre cheirar a mofo ou a sardinha assada!

Caso não queira a casa, temos uma extensa lista para a alugar.

Jorge C. Chora

1/7/2024