Dois jovens casais, sentados à mesa da esplanada de um café, pediam aos transeuntes que os auxiliassem a pagar o que lhes faltava da despesa que tinham feito:
-Só nos falta um euro para pagar a conta…
Aos que lhes pareciam mais pobres, pediam um euro, a outros dois e, aos que aparentavam maior importância, chegavam a pedir quatro ou cinco.
À passagem de um senhor de meia-idade, de barba grisalha, gravata de seda italiana e com um monograma visível na camisa, o choradinho refinou-se:
-Calculámos mal a despesa e veja Vexa. que, para mal dos nossos pecados…desculpe-nos dizer-lhe …estamos envergonhadíssimos …faltam-nos dez euros para fazer face à despesa…
Penalizado com o sofrimento dos jovens e solidário com a vergonha demonstrada, o cavalheiro apaziguou-os:
-Acontece aos melhores. Não se preocupem. Posso sentar-me um bocado convosco?
-Com certeza, faça o favor… -e piscaram, de modo disfarçado, o olho uns aos outros.
-Muito obrigado. Vou aproveitar para tomar o pequeno-almoço com a juventude…- e olhava para as duas jovens com um sorriso encantado e sedutor.
Quanto mais babado e delicado o senhor se mostrava, menos remorsos tinham os acompanhantes das jovens. “ O gagá quando vir como elas lhe mordem, vai ver quanto lhe custam os sorrisinhos”, pensaram os dois sabidos meliantes.
-Estejam à vontade, peçam alguma coisa mais… - ofereceu o senhor.
Não se fizeram rogados.
O empregado teve de interromper o alegre convívio do grupo:
-Peço-lhe mil perdões senhor doutor, mas o seu sócio está a chamá-lo ao telefone. Ele pediu-me que lhe dissesse que é por breves momentos…
Na sua ausência, os quatro aproveitaram para afinar estratégias.
Segundos depois de falar ao telefone, com um sorriso enorme nos lábios, pediu ao empregado que levasse para a mesa mais cinco sandes de presunto.
Enquanto o funcionário se dirigia ao balcão, o cavalheiro saiu pela porta traseira onde o esperava o autor do telefonema:
-Então…rendeu? Quanto é que os totós tinham?
-Vinte euros…mas foi difícil surripiá-los… dá para o gasto e a lição ficou-lhes barata…não há nada como realmente… Agora vão aprender mesmo a pedir e não a roubar … para isso cá estou eu…
-E eu também …ora os fedelhos - enxofrou-se o segundo engravatado.
Na mesa da esplanada, cada vez que passava um aperaltado, os quatro pediam, pianíssimo, em coro:
-Se nos desse cinco cêntimos…
Quando todos os pedinchões, os que estavam à mesa e o que já tinha saído, se preparavam para abandonar a área do restaurante sem pagar, os engravatados por trás e os jovens pela frente, surgiram-lhes os seguranças, que os conduziram ao patrão, em fila indiana.
À medida que iam entrando no gabinete, recebiam uma vassoura, uma esfregona e o respectivo balde e ainda um pano de louça.
Calculada a dívida e o trabalho necessário para a pagar, foram-lhes distribuídas tarefas:
-Varrer a esplanada, lavar o chão do restaurante e, após os almoços dos clientes, lavar a loiça e limpá-la…
- Mas o engravatado comeu mais do que nós… - refilaram as duas raparigas.
-Então, no final, fica a dar banho ao cão e as meninas a secá-lo…
Jorge C. Chora
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Quando se conta só com a nossa esperteza...
ResponderEliminar