sábado, 8 de janeiro de 2011

O presente

A fila encaracolava, dava a volta à esquina e não andava. Perdão, era tão lenta que parecia parada. Três horas passadas e tinham sido atendidas cerca de quinze ou vinte pessoas.

Um tic, tic compassado de saltos altos, denunciou a presença da mesma dama que transitava pelo local pela quarta vez. Olhou de soslaio para a fila, como se de desgraçados se tratassem. Franziu o nariz e de repente, os olhos faiscaram-lhe. A fila tinha ganho vida. Começara a movimentar-se de um modo quase veloz e a desaparecer, como que engolida, pelas portas do luxuoso edifício.

De súbito, a senhora mudou de direcção e introduziu-se nos primeiros lugares da fila. Atrás de si estava um senhor de meia-idade, que além de nada lhe dizer, lhe sorriu de modo acolhedor. Olhou-o de soslaio e achou-o meio parvo. Ficara à sua frente e ele ainda a tratava como se ela estivesse a usufruir de um direito…. Agora só faltava ficar-lhe com o último brinde, haver para ela e nada para ele…então é que seria o bom e o bonito…

Foi recebida de modo caloroso por três senhoras:

-Bem-vinda à nossa organização. Neste momento estamos a precisar de completar a brigada de limpeza. Faça o favor de passar para a mesa da direita para receber o balde e a esfregona. O seu chefe vem mesmo aqui, atrás de si, e já a vai integrar…

E o senhor da simpatia inexcedível deu-lhe, de novo, a primazia:

-Vou tratar de si com todo o carinho. Como se chama Vexa?

Jorge C. Chora

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