A saúde da avó preocupava-o. A teimosia era outra fonte de inquietação. Recusava-se a ir ao médico e a fazer análises. Para ela estava tudo sempre bem, embora fosse notório que isso, nos últimos tempos, não correspondia à verdade.
A muito custo, conseguiu que ela fizesse análises. Colocou de lado os pequenos tubos de análise que o laboratório lhe tinha facultado. Usou os grandes frascos a que estava habituada. O neto agradeceu a colaboração, depositou os recipientes numa bolsa elegante e dirigiu-se ao metro.
Enquanto esperava, colocou o saco entre as pernas e esperou. Sentiu algo de estranho. Olhou para onde o saco estava e não o viu: ele desaparecera. Mau, pensou, depois da trabalheira que tivera para convencer a familiar, não vinha nada a calhar…
Tornou a observar à volta e viu um cavalheiro a caminhar apressado em direcção às escadas, com a bagagem que era sua, na mão.
-Agarrem o ladrão do casaco aos quadrados - gritou apontando na sua direcção.
O vigilante que descia as escadas, lançou-lhe a mão e imobilizou-o.
-Olhe, simplesmente estou chocado com a sua atitude, não sei o que se está a passar! – protestou o cavalheiro, de modo agastado, olhando
para aquele pelintra de calças de ganga, vestido de modo vulgar, que tinha tido a ousadia de o interpelar daquele modo.
-Bom … - disse constrangido o jovem – é que esses frascos…
E o homem, dando uma rápida olhadela ao conteúdo, interrompeu-o:
-Os frascos são meus! Um tem licor de tangerina…
-E o outro?
-O outro, se quer que lhe diga, não me recordo, mas basta-me cheirá-lo e digo-lhe de imediato…
O jovem sorriu e concedeu-lhe o desejo:
-Por quem é! Faça o favor!
Jorge C. Chora
domingo, 2 de janeiro de 2011
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Se a todos os larápios acontecesse o mesmo...
ResponderEliminar:)
ResponderEliminarBom Ano Novo, Jorge!
Abraço
E vá lá , teve sorte porque o jovem não o convidou a provar!
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