Acordou zangada.Com quem, com o quê? Não sabia. Pura e simplesmente acordou assim. Os da casa, pé ante pé, rasparam-se. Foi ao frigorífico e verificou que não havia quase nada.
A contra gosto foi ao supermercado. Teve de encher o carrinho para colmatar as falhas caseiras. Irritada foi-o empurrando, com brusquidão, até que este chocou, com estrondo, contra a caixa. À sua frente estavam alguns clientes que saltaram assustados. Gozou interiormente com o sucedido e acalmou-se um bocado. Foi enchendo com as suas compras o tapete rolante.
Quando chegou a vez de ser atendida, a jovem empregada olhou para a quantidade de produtos que a cliente tinha e, quase a medo, disse-lhe:
-Peço-lhe desculpa…esta caixa é destinada a quem tiver dez ou menos artigos…
-Essa agora…era o que me faltava…nunca me tinha acontecido… - e espumava de fúria.
Condescendente, a caixeira propôs-lhe uma solução:
-Vamos dividir as suas compras em grupos de dez e vai-os pagando, um a um, porque deste modo a caixa aceita o registo.
-Então tenho de pagar às parcelas …às pinguinhas?
-Sim, mas é preciso que as pessoas que estão atrás de si a autorizem…
-Mau… se eu estou primeiro do que elas… - interrompeu, sentindo a fúria crescer-lhe de novo.
A cliente logo atrás, apressou-se a dar-lhe o consentimento. A jovem funcionária, facturou os primeiros dez artigos.
Com um evidente mau humor e um sorriso sarcástico, a cliente retirou do fundo da sua carteira, uma enorme bolsa de pano. Abriu-a e foi despejando dezenas e dezenas de cêntimos enquanto ordenava:
-Vá fazendo as contas e pagando os lotes…
A jovem reprimiu uma gargalhada e respondeu-lhe:
-Agora é que eu não posso ajudá-la. Nesta caixa só se aceitam cartões de crédito ou de débito! – e apontou-lhe as regras escritas no letreiro.
Duas horas depois, a senhora continuava a recolher os cêntimos que espalhara pelo balcão, murmurando:
-Ora abóboras…ora abóboras…
Jorge C. Chora
sábado, 1 de janeiro de 2011
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As raivinhas em tempo de crise...
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