As lágrimas corriam-lhe pela cara. Soluçava e pedia batendo o pé:
-Quero um piano… eu quero – e repetia até à exaustão a sua exigência.
A progenitora explicou-lhe que aquele pedido, por muito que gostasse de o satisfazer lhe era, na prática, quase impossível de concretizar.
A menina passou a exigir-lhe aos gritos e, logo a seguir, aos guinchos, a sua pretensão. Armou-se de uma paciência infinita, daquela que só as mães são capazes.
O tempo foi passando e as birras para obter o malfadado piano foram-se intensificando de tal modo, que a mãe fez um esforço sobre-humano e lhe comprou o instrumento. Como um problema nunca vem só, logo surgiu outro: de que servia o piano sem ter aulas adequadas?
Fez das tripas coração e pagou ao seu rebento as aulas.
A filha depressa se cansou da disciplina e se saturou do trabalho necessário à aprendizagem:
-Já não quero mais…não quero mais…estou farta, fartíssima da música, do piano …
A mãe franziu o sobrolho, foi buscar uma cadeira, sentou-se e começou a gritar sem cessar:
-Eu quero ouvir-te tocar piano… quero ouvir-te tocar piano…
Ao fim de um tempo a menina começou a tocar. Tocou e tocou, mas tão mal, tão mal que os cães e os gatos da vizinhança ladraram e miaram até caírem para o lado devido ao cansaço. A cena repetiu-se todos os dias, e a menina fazia de propósito e tocava, tocava até os cães desfalecerem.
Um dia bateram-lhes à porta. Eram quatro colegas do bairro que vinham pedir autorização para assistirem aos ensaios.
A mãe sentiu-se inchada. A sua linda até atraia as amigas lá a casa!
Enquanto foi preparar um refresco às amigas e as deixou a sós, elas levantaram-se, cercaram a pianista e disseram-lhe:
-Olha, estamos aqui de castigo… se voltas a fingir que não sabes… e nos dás cabo dos ouvidos … - e ainda a ameaça ia no ar e já estava realizada ,com duas de um lado e duas do outro a puxarem-lhe as tranças.
Quando a bandeja dos refrescos apareceu já uma música celestial ecoava pela sala. Ao notar que a filha lacrimejava e ao interrogá-la sobre o facto ouviu as suas amigas:
-São lágrimas de satisfação por estarmos aqui!
A partir desse dia os gatos nunca mais miaram.
Jorge C. Chora
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
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