A colheita de citrinos decorria
de modo calmo, talvez demasiado calmo para quem tinha contratado. A mão -de -
obra era local. O pomar era grande e a produção do ano bastante boa.
Após duas horas e meia de
trabalho, a chefe do grupo, acercou-se do patrão e comunicou-lhe uma decisão:
-Vamos fazer uma paragem. Está na
hora da fumaça.
Julgou ter ouvido mal. Hora da
fumaça!? Viu-as afastarem-se em direcção a uma pequena casa no fundo da
propriedade. Em pleno Alentejo, estranhou o hábito de fumar por parte das trabalhadoras
rurais.
No dia seguinte, a cena
repetiu-se, à mesma hora, pelas 9.30 h..
-Está na hora da fumaça! -
comunicou-lhe a chefe.
Sem se conter disse:
-Também gosto de fumar um
cigarrinho! Vou convosco.
-Fumar um cigarrinho? Nenhuma de
nós fuma!
-Como assim? Então acaba de me
dizer que está na hora da fumaça… -replicou o patrão Paulo.
-E está…elas já vão a caminho da
casinha…
Sem perceber nada do que se
estava a passar, sentiu o sangue a subir-lhe à cabeça. Querem lá ver as maganas
a gozarem comigo? Pensou. Conteve-se e conseguiu formular um pedido:
-Posso ir convosco?
-Claro…se prometer não fumar…
A coisa ia de mal a pior. Seguiu
ao lado da chefe até à casinha da fumaça. Quando chegaram ela abriu a porta. No
interior nada se via, mas ouviu-se um coro de vozes:
-Agora traz o patrão? Ele é capaz
de não caber aqui dentro!
-Vamos lá estar caladinhas e
façam o favor de ser educadas. Mostrem que o pessoal de cá sabe receber! - resmungou
a chefe.
-Os anafados protegem-se…- reclamaram
- Aproveitando o escuro no interior e a impossibilidade de serem reconhecidas.
Passado um bocado, com os olhos
adaptados, o avantajado negociante conseguiu ver que as mulheres estavam à roda
de um braseiro, esfregando as mãos, batendo os pés e algumas, levantando, de
modo disfarçado as saias, aquecendo a alma.
A partir desse dia, o patrão
Paulo era o primeiro a avisar o pessoal:
-Está na hora da fumaça!
Jorge C. Chora
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