quarta-feira, 5 de junho de 2013

A hora da fumaça

                                                                                                                              
A colheita de citrinos decorria de modo calmo, talvez demasiado calmo para quem tinha contratado. A mão -de - obra era local. O pomar era grande e a produção do ano bastante boa.

Após duas horas e meia de trabalho, a chefe do grupo, acercou-se do patrão e comunicou-lhe uma decisão:

-Vamos fazer uma paragem. Está na hora da fumaça.

Julgou ter ouvido mal. Hora da fumaça!? Viu-as afastarem-se em direcção a uma pequena casa no fundo da propriedade. Em pleno Alentejo, estranhou o hábito de fumar por parte das trabalhadoras rurais.

No dia seguinte, a cena repetiu-se, à mesma hora, pelas 9.30 h..

-Está na hora da fumaça! - comunicou-lhe a chefe.

Sem se conter disse:

-Também gosto de fumar um cigarrinho! Vou convosco.

-Fumar um cigarrinho? Nenhuma de nós fuma!

-Como assim? Então acaba de me dizer que está na hora da fumaça… -replicou o patrão Paulo.

-E está…elas já vão a caminho da casinha…

Sem perceber nada do que se estava a passar, sentiu o sangue a subir-lhe à cabeça. Querem lá ver as maganas a gozarem comigo? Pensou. Conteve-se e conseguiu formular um pedido:

-Posso ir convosco?

-Claro…se prometer não fumar…

A coisa ia de mal a pior. Seguiu ao lado da chefe até à casinha da fumaça. Quando chegaram ela abriu a porta. No interior nada se via, mas ouviu-se um coro de vozes:

-Agora traz o patrão? Ele é capaz de não caber aqui dentro!

-Vamos lá estar caladinhas e façam o favor de ser educadas. Mostrem que o pessoal de cá sabe receber! - resmungou a chefe.

-Os anafados protegem-se…- reclamaram - Aproveitando o escuro no interior e a impossibilidade de serem reconhecidas.

Passado um bocado, com os olhos adaptados, o avantajado negociante conseguiu ver que as mulheres estavam à roda de um braseiro, esfregando as mãos, batendo os pés e algumas, levantando, de modo disfarçado as saias, aquecendo a alma.

A partir desse dia, o patrão Paulo era o primeiro a avisar o pessoal:

-Está na hora da fumaça!


Jorge C. Chora

Sem comentários:

Enviar um comentário