quinta-feira, 6 de junho de 2013

A mãe da Humanidade

Bastava puxarem-lhe pela língua e pela malandrice que D. Laura não deixava os créditos por mãos alheias.

 Um chorrilho de asneiras e um sorriso aberto era derramado sobre os interlocutores, deixando-os zonzos ou melhor, abananados e mudos durante o resto da conversa.

Da mesma terra de D. Laura era o dono do café que a atazanava sempre que podia. Nesse dia tinham alguns dos fregueses apostado no número de palavrões que ela diria quando a irritassem de modo deliberado.

Atrás do balcão, o dono ia registando, numa ardósia, com pequenos traços, a frequência das asneiras. Quatro traços verticais e o quinto, horizontal, contabilizavam grupos de cinco.

D. Laura reparou no afã do senhor e deu uma espreitadela. Apercebeu-se do ele fazia e zangou-se a valer: uma sucessão de carvalhos complementou a reprimenda.

O escriba contabilizou-os, todos, à medida que iam sendo proferidos. E foi aí que D. Laura ficou brava:

-E nem registar sabe, pois de cada vez que eu digo a palavra assinala-a como asneira. Carvalho não é um palavrão: ele é o pai da humanidade. Tem de haver respeito por ele! Sem ele a humanidade extinguia-se!

E foi assim que D. Laura passou a ser conhecida como a mãe da humanidade.


Jorge C. Chora

Sem comentários:

Enviar um comentário