Bastava puxarem-lhe pela língua e pela malandrice que D.
Laura não deixava os créditos por mãos alheias.
Um chorrilho de asneiras e um
sorriso aberto era derramado sobre os interlocutores, deixando-os zonzos ou
melhor, abananados e mudos durante o resto da conversa.
Da mesma terra de D. Laura era o dono do café que a atazanava
sempre que podia. Nesse dia tinham alguns dos fregueses apostado no número de
palavrões que ela diria quando a irritassem de modo deliberado.
Atrás do balcão, o dono ia registando, numa ardósia, com
pequenos traços, a frequência das asneiras. Quatro traços verticais e o quinto,
horizontal, contabilizavam grupos de cinco.
D. Laura reparou no afã do senhor e deu uma espreitadela.
Apercebeu-se do ele fazia e zangou-se a valer: uma sucessão de carvalhos
complementou a reprimenda.
O escriba contabilizou-os, todos, à medida que iam sendo
proferidos. E foi aí que D. Laura ficou brava:
-E nem registar sabe, pois de cada vez que eu digo a palavra
assinala-a como asneira. Carvalho não é um palavrão: ele é o pai da humanidade.
Tem de haver respeito por ele! Sem ele a humanidade extinguia-se!
E foi assim que D. Laura passou a ser conhecida como a mãe
da humanidade.
Jorge C. Chora
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