sábado, 6 de julho de 2013

O homem das serpentes


Subia a rua poeirenta, depois de ter atravessado a fronteira entre Espanha e Portugal. Os gaiatos ao darem por ele, gritaram:

- O homem das serpentes…fujam antes que alguma salte….

E o vendedor da banha da cobra, progredia, de modo lento, envolto em rolos de poeira, soprada pelo vento que se levantara. Da saca que transportava às costas, assomavam três cabeças de répteis vigilantes: duas viradas para a frente e a terceira para trás.

Numa mão transportava um pequeno boião que apresentava aos aldeãos, que entretanto começaram a surgir, alertados pelos gritos:

-O homem das serpentes…

-Para “animales e hombres”...se curam dolores de cabeza, dientes, entorses, coisas que incharam, males de piel…, cura tudo… - anunciava num “portinhol” coxo, mas que dava para entender.

E apresentava à esquerda e à direita os pequenos potes de banha que ia impingindo à medida que falava sem parar.

A certa altura parou as vendas e anunciou que ia beber um “vino”. Entrou na taberna e sem nada ter pedido, foi-lhe colocado à frente um copo de tinto e três tampas quase rasas com o mesmo líquido.

As serpentes saíram do saco e lamberam o néctar ao mesmo tempo que ele. Um estalido de aprovação à bebida que acabara de tomar, assinalou o regresso dos animais ao saco.

O regresso à praça fez com que as cinco mulheres, que lá se encontravam, se retirassem de imediato. Constava que as serpentes saltavam do saco e se enroscavam nas pernas das mulheres que traíam os maridos. Ninguém queria passar por semelhante teste, até porque, desde que o homem das serpentes começara a aparecer na aldeia, muitos dos casais considerados estéreis, tinham sido bafejados com o nascimento de pimpolhos e ele não vendia banhas para essa enfermidade.

Nesse dia, aconteceu que elas saltaram do saco e se enroscaram às pernas dos três notáveis da aldeia.

-Mas o que é que se passa com elas?- questionaram os enroscados.

-No se preocupen Excelências …elas tambien reconhecem quien promete e no cumpre…

A partir desse dia, o homem das serpentes e os seus animais, sempre que há campanhas eleitorais, são contratados para assistir aos comícios. O número de candidatos reduziu-se de tal forma que é necessário recrutá-los pela internet. O problema é que as serpentes não são poliglotas e os estrangeiros, que não são parvos, sabem-na toda e aproveitam-se do facto.

Jorge C. Chora




Sem comentários:

Enviar um comentário