Sentado num caixote de frutas, rodeado de ouvintes, um velho
de sapatos rotos, prende a atenção dos compadres:
- Existiu outrora um pequeno reino, localizado numa
república do faz de conta. Os habitantes dessa república diziam desconhecer,
por completo, o referido território e as manigâncias ali existentes. Nesse
reino abundavam pastores que decidiram prescindir das cavalgaduras que lhes
serviam de meios de transporte há séculos. Substituíram-nas por outros, dotados
de imensos cavalos de potência, importados de uma região onde, em tempos idos,
havia a Prússia.
-Mas que pastores eram esses? - Interroga um dos ouvintes.
Olharam surpresos, os presentes, para o basbaque que
questionava o narrador:
--“Atão o compadri nã sabia”?Pois ouça e aprenda…
E sem demora o contador seguiu com a sua história.
-Esses pastores, não tinham uma única cabeça de gado. É
estranho? Pois é…mas naquele reino era mesmo assim. Na verdade existia um único
rebanho que se fartava de viajar: hoje podia estar nas terras do Regueifa e
amanhã nas do Manuel do Mel, ao sabor das visitas de um fiscal cuja missão era
contar as cabeças de gado que cada um possuía. Contadas as cabeças, estabelecido o subsídio que
os proprietários receberiam por cada uma, restava aos mesmos deslocarem-se à instituição
para o receberem.
O rebanho, terminada a visita do fiscal, voava até às terras
onde seria preciso apresentá-lo. Quanto aos brincos de identificação do gado, os
pastores do reino tornaram-se especialistas em colocá-los e retirá-los num
ápice.
Um dos pastores tornou-se até especialista em ocupar as casotas
dos cães e, enquanto o fiscal contava o gado, ele balia e o dono da propriedade
dizia:
-Ainda há mais uma ovelha perdida por aí…ouça…
E dentro da casota o homem balia:
Méé…méé…
-E quem fazia de ovelha? - perguntou o basbaque..
-Era rotativo…
-Bem..bem… a história
já está comprida…vai lá tomar um copo que nós pagamos… - propuseram
unanimemente os presentes, enquanto palpavam as chaves dos seus carrões.
Jorge C. Chora
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