quinta-feira, 18 de julho de 2013

O rebanho voador

Sentado num caixote de frutas, rodeado de ouvintes, um velho de sapatos rotos, prende a atenção dos compadres:

- Existiu outrora um pequeno reino, localizado numa república do faz de conta. Os habitantes dessa república diziam desconhecer, por completo, o referido território e as manigâncias ali existentes. Nesse reino abundavam pastores que decidiram prescindir das cavalgaduras que lhes serviam de meios de transporte há séculos. Substituíram-nas por outros, dotados de imensos cavalos de potência, importados de uma região onde, em tempos idos, havia a Prússia.

-Mas que pastores eram esses? - Interroga um dos ouvintes.

Olharam surpresos, os presentes, para o basbaque que questionava o narrador:

--“Atão o compadri nã sabia”?Pois ouça e aprenda…

E sem demora o contador seguiu com a sua história.

-Esses pastores, não tinham uma única cabeça de gado. É estranho? Pois é…mas naquele reino era mesmo assim. Na verdade existia um único rebanho que se fartava de viajar: hoje podia estar nas terras do Regueifa e amanhã nas do Manuel do Mel, ao sabor das visitas de um fiscal cuja missão era contar as cabeças de gado que cada um possuía.  Contadas as cabeças, estabelecido o subsídio que os proprietários receberiam por cada uma, restava aos mesmos deslocarem-se à instituição para o receberem.

O rebanho, terminada a visita do fiscal, voava até às terras onde seria preciso apresentá-lo. Quanto aos brincos de identificação do gado, os pastores do reino tornaram-se especialistas em colocá-los e retirá-los num ápice.

Um dos pastores tornou-se até especialista em ocupar as casotas dos cães e, enquanto o fiscal contava o gado, ele balia e o dono da propriedade dizia:

-Ainda há mais uma ovelha  perdida por aí…ouça…

E dentro da casota o homem balia:

Méé…méé…

-E quem fazia de ovelha? - perguntou o basbaque..

-Era rotativo…

-Bem..bem…  a história já está comprida…vai lá tomar um copo que nós pagamos… - propuseram unanimemente os presentes, enquanto palpavam as chaves dos seus  carrões.

Jorge C. Chora




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