sábado, 12 de setembro de 2015

COGNATA

                                                                                                                                 
Entre as belas da aldeia, Cognata era a mais bela. Pelo nome, só por ele, quem não a conhecesse, seria incapaz de prever quão bela ela era de facto. Não sendo rica, nem sequer remediada, quem podia trajar roupa lavada, sentia-se um degrau acima, o que naquele tempo fazia toda, mas toda a diferença.
Na localidade, raro era o dia em que não lhe recordavam que era pobre, suja e dependente do mais pobre dos habitantes. Cognata sabia que não era bem assim. O prato de sopa com que muitas vezes lhe pagavam os serviços, dividia-o com outras meninas em piores situações do que a dela . Quando descobriram que o pouco que lhe davam ela ainda partilhava, ameaçaram-na:

-Se o que te damos ainda dá para dares aos outros, é porque te damos em demasia…

Cognata prometeu nunca mais distribuir o que lhe “ofereciam”. Colocava-se à esquina, escondendo o prato atrás de si, de modo a que não a vissem, e as protegidas, assim podiam  molhar pedacinhos de pão na sopa que ela continuava a partilhar.

Cognata chegou à idade adulta e candidatou-se a um emprego numa instituição de solidariedade social. Foi recusada. O motivo alegado, veio escarrapachado numa folha de papel couché: Sem hábitos comprovados de solidariedade.

A recusa vinha assinada por uma das senhoras que prometera cortar-lhe a sopa por achar que lha davam em demasia…

Jorge C. Chora



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