Entre as belas da aldeia, Cognata era a mais bela. Pelo nome,
só por ele, quem não a conhecesse, seria incapaz de prever quão bela ela era de
facto. Não sendo rica, nem sequer remediada, quem podia trajar roupa lavada, sentia-se
um degrau acima, o que naquele tempo fazia toda, mas toda a diferença.
Na localidade, raro era o dia em que não lhe recordavam que
era pobre, suja e dependente do mais pobre dos habitantes. Cognata sabia que
não era bem assim. O prato de sopa com que muitas vezes lhe pagavam os
serviços, dividia-o com outras meninas em piores situações do que a dela . Quando
descobriram que o pouco que lhe davam ela ainda partilhava, ameaçaram-na:
-Se o que te damos ainda dá para dares aos outros, é porque
te damos em demasia…
Cognata prometeu nunca mais distribuir o que lhe “ofereciam”.
Colocava-se à esquina, escondendo o prato atrás de si, de modo a que não a
vissem, e as protegidas, assim podiam molhar pedacinhos de pão na sopa que ela
continuava a partilhar.
Cognata chegou à idade adulta e candidatou-se a um emprego
numa instituição de solidariedade social. Foi recusada. O motivo alegado, veio
escarrapachado numa folha de papel couché: Sem hábitos comprovados de
solidariedade.
A recusa vinha assinada por uma das senhoras que prometera
cortar-lhe a sopa por achar que lha davam em demasia…
Jorge C. Chora
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