Quinze minutos antes de a mercearia abrir, já o velho Maurício
estava à porta. Gostava de ser o primeiro a ser atendido. Podia escolher à
vontade e apalpar a fruta antes de a comprar. É certo que ouvia reprimendas, todos os
dias:
- O senhor Maurício não pode mexer na fruta…
E Maurício fazia-se de surdo e murmurava:
-Querias meu patife… tu apalpavas e eu comprava… -E logo em
seguida, apanhava o pano com que o merceeiro puxava o lustro à fruta, e fingia
que a limpava de novo, escolhendo aquela que mais lhe convinha.
O proprietário da loja acabou por desistir dos ralhetes,
deixar de limpar a fruta e atribuir essa tarefa ao Maurício que, em troca do
serviço, poderia escolher a melhor para si.
Quem quer ver Maurício feliz e contente, logo pela manhã, é
vê-lo a puxar o lustro aos melões e a advertir a clientela:
-Nada de tocar na fruta…para isso estou cá eu…
E quando alguém não liga ao que diz, repreende-os:
-Para surdo, basto eu!
Jorge C. Chora
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