sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O MERCEEIRO E O CASMURRO

                                               
Quinze minutos antes de a mercearia abrir, já o velho Maurício estava à porta. Gostava de ser o primeiro a ser atendido. Podia escolher à vontade e apalpar a fruta antes de a comprar. É certo que ouvia reprimendas, todos os dias:

- O senhor Maurício não pode mexer na fruta…

E Maurício fazia-se de surdo e murmurava:

-Querias meu patife… tu apalpavas e eu comprava… -E logo em seguida, apanhava o pano com que o merceeiro puxava o lustro à fruta, e fingia que a limpava de novo, escolhendo aquela que mais lhe convinha.

O proprietário da loja acabou por desistir dos ralhetes, deixar de limpar a fruta e atribuir essa tarefa ao Maurício que, em troca do serviço, poderia escolher a melhor para si.

Quem quer ver Maurício feliz e contente, logo pela manhã, é vê-lo a puxar o lustro aos melões e a advertir a clientela:

-Nada de tocar na fruta…para isso estou cá eu…

E quando alguém não liga ao que diz, repreende-os:

-Para surdo, basto eu!

Jorge C. Chora




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